Forte, decidida e batalhadora por si e pelos outros, Sandra Avila emana simpatia e se define como uma mulher, nordestina, cientista, professora e feminista
Filha de ex-analistas de sistemas do Centro de Processamento de Dados da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Sandra Avila, 38, viveu a infância acompanhando os pais e convivendo com a computação. Amante da área de exatas, quando criança queria ser astronauta ou fazer matemática, mas acabou seguindo e ultrapassando os passos dos pais. Graduada em Computação pela UFS, colocou o “pé na estrada” e tornou-se cientista. Ex-aluna do mestrado e do doutorado do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG) e ex-aluna do pós-doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2017 tornou-se professora desta instituição.
Com o pensamento de que a tecnologia pode ajudar as pessoas, desde a graduação Avila apaixonou-se pela pesquisa e o processamento digital de imagens foi a área escolhida para o trabalho da conclusão do curso. Emendou o mestrado no DCC na mesma área de trabalho da graduação, mas agora mais detalhadamente e com o objetivo de usar a tecnologia para salvar vidas.
Finalizado o mestrado em 2008, Sandra também emendou o doutorado e partiu para um intercâmbio de pesquisa entre o DCC e o LIP6, laboratório na Universidade Pierre e Marie Curie (atual Sorbonne), na França, onde permaneceu por dois anos. “Saí do Brasil pensando que só iria aprender, que teria, inclusive, que “correr atrás”. Aprendi muito, mas tive a grata surpresa de também poder ensinar. O conhecimento adquirido em disciplinas no DCC, principalmente o rigor experimental na organização da pesquisa, os encantou. Começamos a aplicar os métodos no doutorado com tudo que levei em minha bagagem. Vi que na França tem muitas coisas boas, como aqui também, mas também há coisas ruins e às vezes são até piores que as nossas. Voltei ao Brasil em 2012 e finalizei o doutorado em 2013,” contou.
Também em 2013, a inquietude e ânsia por ampliar os conhecimentos e pesquisas, a levou para a Unicamp, para fazer o pós-doutorado. Lá igualmente prestou concurso para professora e, aprovada, ficou tanto para finalizar os estudos quanto para, agora, repassar seus conhecimentos.
Sandra trabalha em pesquisas, nunca se viu fora da universidade e como docente o primeiro aluno o qual orientou durante o mestrado ganhou várias premiações. Publicou mais de 50 artigos durante sua vida estudantil e como professora, além de também ter ganho vários prêmios, dentre eles o Inventores da UNICAMP, na categoria Tecnologia Licenciada, três Best Paper Awards (dois na conferência Computer Vision and Pattern Recognition (CVPR) e um no International Conference on Medical Image Computing and Computer Assisted Intervention (MICCAI), todos os prêmios no Skin Image Analysis Workshop), e no Google Latin America Research Awards, este último por três anos consecutivos, 2018, 2019 e 2020. Suas pesquisas estão voltadas para as áreas de Aprendizado de Máquina e Visão Computacional, com ênfase na saúde, análise de conteúdo sensível, agricultura de precisão e outras aplicações. Atualmente trabalha bastante com a área da saúde, desenvolvendo por exemplo, técnicas que identificam imagens de lesões características de câncer de pele. Além disso, foi selecionada em 2020 pela Academia Brasileira de Ciências para representar o Brasil no Fórum BRICS para Jovens Cientistas na área de Inteligência Artificial.
Muito engajada em tudo que faz, Sandra também trabalha para divulgar e incentivar meninas a entrarem na área de exatas e ocuparem espaços tanto nas universidades quanto em empresas, além de mitigar com o preconceito e o machismo. Para tanto, não mede esforços. “Não é uma queixa, mas como vejo o fato de não haver tantos espaços para as mulheres na área de exatas como um problema, quero resolver isso. Assim, acabo desprendendo um tempo que poderia dedicar à pesquisa para solucioná-lo. Não deveria precisar, mas infelizmente ainda é necessário. Já percebi várias vezes olhares preconceituosos e duvidosos por eu ser mulher, e digo que quem acha que não passou apenas não percebeu porque com certeza passou. Há alguns anos éramos mais quietas, hoje, pelo menos, vejo as mulheres — e as meninas — muito engajadas nessa luta. Pontuamos e questionamos sempre quando vemos espaços ocupados somente por homens para que sejam abertos para nós. Por exemplo, já não aceito mais um evento com apenas palestrantes homens. Merecemos estar em todos os lugares e somos também muito capazes”, ressaltou.
O primeiro foi o projeto Android Smart Girls, onde mentorava meninas de escolas públicas, ensinava programação e desenvolviam aplicativos. Após isto, não parou mais, ela luta e desenvolve diversos projetos não só para trazer as meninas para a área, mas, também, incentivá-las a permanecer. “Faço parte de um projeto muito fofo, com meninas do sexto ao nono ano, que as traz para o convívio dos laboratórios, das cientistas e de tudo aquilo que envolve a área de ciências na Unicamp, promovendo palestras e várias atividades de incentivo. É lindo ver as meninas do projeto Meninas SuperCientistas empolgadas e dando depoimentos sobre tudo que aprenderam e descobriram”, comemora.
Sandra leciona de duas a três disciplinas por ano, e busca, inclusive, ser docente de cursos que não tenham ligação com a computação. “Lecionar para as pessoas do primeiro semestre de outros cursos a disciplina Algoritmos e Programação de Computadores é muito motivador e desafiador. Os estudantes da computação já estão pré-dispostos a gostar da matéria, os outros tenho que mostrar que programar é muito legal e gosto muito desse desafio. Fico muito feliz quando, muitas vezes, quando alunas e alunos querem fazer mais disciplinas relacionadas ou, até, mudam para o curso de computação”, contou.
Quando saiu da UFS para o DCC, Sandra teve professores do DCC que a acolheram desde a chegada e a inspiraram. Na chegada, Mariza Andrade da Silva Bigonha e Roberto da Silva Bigonha fizeram diferença para a ex-aluna. “Eles não foram meus professores, mas me acolheram com muito carinho. Tenho muita gratidão e pelo resto da minha vida por isso. Saí de outro estado, com outra cultura, costumes e longe da minha família, esse acolhimento fez toda a diferença. Outra professora do DCC que me inspirou e queria estar junto, foi a professora Raquel Prates. Ela é maravilhosa, gostei tanto da matéria e dela, de como ela lecionava que até fiz uma matéria sem nenhuma relação com o que pesquisava. Fiquei encantada, a queria como minha orientadora, me espelhava nela, ela me representava”, desabafou.
Avila também conta que a área da computação não é fim, mas um meio, e para ter resultado é necessário conversar com as pessoas. “Não ache que vai lidar somente com os computadores, isso não existe, estamos resolvendo problemas, é de pessoas para as pessoas, e a computação é somente um meio. Quanto à pesquisa, acredito muito na ciência, e por isso sou cientista/pesquisadora. A cada dia descubro que menos sei e quero me atualizar, estudar, aprender. As coisas estão sempre mudando e isso me motiva a descobrir algo novo e sempre ultrapassar o que já é conhecido e inovar”, contou.
Para a ex-aluna, o que a motiva e a leva sempre em frente são os impactos que a pesquisa podem trazer para a sociedade. “Sempre me procuram por isso e tenho isso comigo quando inicio uma pesquisa: o que posso trazer para o bem do próximo, o que trarei de impactos positivos para a sociedade com os problemas que estou lidando e as soluções que estou trazendo? Eu trabalho com a técnica, mas penso sempre na aplicação. Isso me motiva e me instiga a sempre fazer o meu melhor para todos”, concluiu.
Segundo a professora Raquel Prates, Sandra foi sua aluna em duas disciplinas na pós-graduação no DCC. “Ela não foi minha orientanda, trabalhava em outra área, mas sempre foi muito dedicada, competente e muito simpática. Como aluna, era do tipo que nos incentiva e anima a ministrar as aulas e nos faz felizes de sermos professores. Como pessoa, é muito querida, atenciosa e sempre gostei muito de conversar com ela. Agora, como professora, tenho certeza de que inspira seus alunos em suas disciplinas e pesquisas,” afirmou.
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