“O treinamento durante o doutorado foi fundamental para a minha atuação”, afirma ex-aluno do DCC

Ex-aluno do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, o mineiro de Muriaé, Carlos Goulart, atualmente é professor na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde também já foi diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas e pró-reitor de Gestão de Pessoas. No Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação, cursou o doutorado e, também, teve a oportunidade de fazer o doutorado sanduíche por um ano no Canadá, na University of British Columbia (UBC). Durante os estudos no DCC, Goulart foi orientado pelo professor José Marcos Silva Nogueira, o qual, segundo ele, sempre deu uma liberdade muito grande, mas também cobrando resultados. Outro professor que marcou bastante o Carlos foi o Antônio Alfredo Ferreira Loureiro, que, de acordo com o ex-estudante, contribuiu muito com o seu trabalho com sugestões interessantes.  

Durante o doutorado, conforme Goulart, a qualidade do corpo docente, a infraestrutura computacional e a eficiência dos servidores técnico-administrativos chamavam muito a atenção. “O ambiente de trabalho era muito bom e a relação com todo o pessoal do DCC sempre me deixou muito à vontade. Foi um local que pude conhecer muitas pessoas e fazer novos amigos. O fácil acesso aos docentes, em geral e em particular ao meu orientador, que muitas vezes nos atendiam mesmo sem termos agendado foi muito marcante. O DCC representou uma oportunidade de obter novos conhecimentos e me capacitar para atuar com mais competência na área acadêmica. Entrei em uma das primeiras turmas do doutorado do DCC e, hoje, a gente verifica que o DCC é sinônimo de excelência e qualidade. O treinamento durante o doutorado foi fundamental para a minha atuação, a partir de então, na UFV. Como docente de uma universidade pública, ter o doutorado é ter a possibilidade de acesso a todas as oportunidades acadêmicas.

Apesar de não ter formação na área de Ciência da Computação, já que fez a graduação em Engenharia Eletrônica e mestrado em Engenharia Elétrica, Carlos já trabalhava na área, com Redes de Computadores, o que o levou ao doutorado no DCC. “O que mais me marcou no DCC foi participar da consolidação da pós-graduação. Entrei em um dos primeiros processos seletivos para o doutorado e ainda não havia nenhuma tese defendida. Salvo melhor juízo, a minha foi a quarta defesa de tese de doutorado do DCC. Vim de outra área, pois a minha formação básica é de Engenharia Eletrônica, com mestrado em Engenharia Elétrica, mas com trabalho já na área de Ciência da Computação (Redes de Computadores), mesma área do meu doutorado. Então, eu não tinha uma base muito sólida em fundamentos da computação e passei muito aperto em algumas disciplinas. Tive que estudar muito para essas disciplinas e, principalmente, para o exame de qualificação, onde eram cobrados muito fortemente estes fundamentos”, falou. 

No doutorado, Goutart propôs um modelo para garantir a transmissão de áudio e vídeo, com qualidade, em redes de dados. Na época, a Internet estava “engatinhando” no Brasil e não existia infraestrutura para dar suporte à transmissão de áudio e vídeo. “Para se ter uma ideia, a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) na época tinha apenas um link com o exterior de 64 kbps (64.000 bits por segundo) – hoje a conexão de casa costuma ser pelo menos 1000 vezes mais rápida. Então, para acessar informações sobre a UBC, onde iria para o sanduíche, eu tinha que chegar no DCC por volta de 5h, pois a partir de 7h o link ficava totalmente saturado e era como se não existisse conexão com o exterior. Também, nessa época, havia uma disputa tecnológica que envolvia os modelos de telecomunicação europeu em contraposição ao modelo norte-americano. No Brasil, as operadoras de telefonia fixa (Telemig, em Minas Gerais) seguiam o modelo europeu. Assim, o meu trabalho estava todo sendo desenvolvido para mapeamento para o modelo em uso no Brasil. Quando chego no Canadá, na primeira reunião com o orientador do doutorado sanduíche, o professor Gerald Neufeld, e faço a apresentação do que já havia desenvolvido, o comentário dele foi curto e grosso: isto não funciona! Como um bom mineiro, tive que redefinir o modelo, tornando-o mais genérico, e fazer o mapeamento para os dois modelos, o europeu e o norte-americano. Isso tomou mais tempo do que o planejado e o trabalho que deveria ser concluído em quatro anos, demorou um pouco mais de cinco. Mas, no final, o resultado acabou ficando mais interessante e já apontando para a convergência tecnológica que ocorreu entre os dois modelos. O tempo era um fator que nos pressionava, pois o assunto da tese era muito tecnológico. Por isso, além de outros grupos de pesquisa em Universidades no mundo todo, havia também empresas de ponta na área de telecomunicações que desenvolviam pesquisa e produtos para dar à Internet a infraestrutura necessária para transmitir áudio e vídeo com qualidade. Hoje, quase três décadas depois, quase todo mundo utiliza Youtube, Netflix, Spotify, dentre outros aplicativos, e nem imagina o caminho percorrido para chegar até este ponto”, relatou. 

Durante o doutorado, Goulart passou por algumas situações engraçadas. Como morava próximo à UFMG, às vezes resolvia ir caminhando para o DCC. O percurso merecia um pouco de atenção para que não ocorresse nenhum tipo de acidente. Mas, um certo dia, Carlos passou um aperto grande, sendo perseguido por uma vaca. “Eu morava bem próximo do campus da UFMG, na Rua Boaventura, em um trecho que é paralelo à Av. Antônio Carlos. Na época, não existia a rua Flor de Fogo (obrigado Google Maps – risos), ligando aquela parte do bairro à Avenida Antônio Carlos. O que existia era um trilho no meio de um pasto, com algumas vacas e a travessia do córrego era uma “pinguela” de madeira, com uns 40 a 50 cm de largura e sem guarda corpo (corrimão). Toda vez que passava ali, a travessia da “pinguela” era feita com muito cuidado e bem devagar para não ter nenhuma chance de queda, já que a água era imunda. Neste dia, porém, uma vaca veio correndo em minha direção e eu atravessei a pinguela na maior correria. A minha sorte é que eu já estava bem próximo à “pinguela” e que as vacas não atravessam pinguelas, se não acho que a vaca iria me pegar”, disse rindo. Já casado na época do doutorado e pai da Paula, há época com 5 anos, Carlos passou uma situação engraçada com a filha. “Aproveitando o feriado de Belo Horizonte, resolvi viajar, mas precisei passar no DCC para pegar um livro, já com a família no carro. Cheguei na portaria da Av. Antônio Carlos, parei o carro e o vigilante fez a abordagem, me perguntando em que prédio eu estava indo. Me identifiquei e disse que estava indo no prédio do ICEx pegar um livro. Depois de passar pela portaria, minha filha falou: pai… você vai no sexy?”, contou rindo.

Para os que desejam entrar ou já estão no DCC, Goulart ressalta a importância de aproveitar todos os momentos. “Aproveite a oportunidade! É, sem sombra de dúvida, um Departamento de Ciência da Computação de excelente qualidade e destaque na graduação e na pós-graduação em todas as avaliações”, concluiu.

Segundo o professor José Marcos, a relação professor-aluno com o Carlos durou cinco anos, período que o orientou durante o doutorado. “Já faz uns trinta anos que conheço o Goulart! Ele era um estudante muito competente, sério e dedicado aos estudos e à sua pesquisa na área de protocolos de comunicação. Conseguiu bons resultados e publicações, numa época em que publicar ainda não era a coisa mais importante da vida, como hoje parece ser. Durante seu período de doutorado, o Carlos fez um estágio (doutorado sanduíche) no Canadá, na Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, local onde eu havia feito um pós-doc uns oito anos antes. Seu supervisor lá foi o professor Gerald Neufeld. Após o doutorado, ele ingressou na Universidade Federal de Viçosa, onde fez uma bela carreira acadêmica como professor, pesquisador e administrador. Foi chefe de departamento, diretor de unidade e pró-reitor. Hoje é professor titular da UFV. O Carlos é uma pessoa muito boa, tranquila, humilde, da paz. Somos amigos, embora ultimamente nossos contatos sejam raros, pela distância e falta de oportunidades de encontros. Tenho orgulho de ter tido o Carlos como aluno e de ter contribuído de alguma forma com sua formação profissional”, falou orgulhoso.

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Acesso por PERFIL

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