De origem humilde, advindo da região de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, o ex-aluno da graduação, mestrado e doutorado do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, Fernando Augusto Teixeira, achava que seria eletricista em uma das mineradoras da região de onde nasceu, mas, após o ingresso no DCC tudo mudou. “O DCC transformou minha vida. Sou de origem humilde e do interior, trabalho desde os 14 anos. Quando adolescente pensava em trabalhar como eletricista em uma das empresas mineradoras aqui da região de Conselheiro Lafaiete, onde nasci e moro atualmente. Assim que entrei no DCC já consegui um estágio no IGC (Instituto de Geociências da UFMG), dei monitoria e aula de Administração de Redes Unix/Linux na extensão, fiz estágio no PoP-MG – em uma época em que vários provedores de Internet se conectavam na UFMG, e comecei a trabalhar com desenvolvimento de software profissionalmente no SIS (parceria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação entre o DCC/UFMG e a Telemar/Oi). Com o estudo e a prática no DCC ampliei minhas possibilidades, passei a ver o mundo de outra forma (inclusive de óculos, rs), conheci pessoas e tive oportunidades sensacionais de emprego e negócios, fiquei um período fora do país durante o doutorado e pude trabalhar em parceria com grandes empresas nacionais e internacionais, além de órgãos dos governos Federal, Estadual e Municipal”, relatou.
Para vencer os desafios propostos enquanto estudante, Teixeira passou por alguns “perrengues” que, segundo ele, são hoje lembranças bem divertidas. “Passei por vários perrengues! (risos). Por exemplo, fiz a graduação no DCC entre 1997 e 2000, era comum fazermos muitos trabalhos práticos (TPs) e virar muitas noites no departamento. Em uma dessas noites estudando/trabalhando fomos pedir uma pizza, lá pelas 2h ou 3h da manhã, e quem nos atendeu estudava no ICB e ficou surpreso quando falamos que era para entregar no ICEx: “Nossa, véio o que que vocês estão fazendo aí no ICEx a uma hora dessas!?”, ele perguntou. Em outra ocasião, já tínhamos virado uma ou duas noites em um TP do Loureiro ou do Claudionor, se não me engano, que apelidamos de TPs Infinitos, e quando resolvemos ir embora perdemos o último ônibus que passava dentro do Campus. Aí resolvemos pegar o ônibus na Av. Antônio Carlos, já que estávamos decididos a não passar uma nova noite no DCC. Quando estávamos esperando o ônibus, vimos um sujeito correndo e gritando: “Corre, arrastão da Galoucura!”. Tinha acabado de ter uma partida do Galo no Mineirão… Entramos outra vez na UFMG, voltamos para o DCC e resolvemos passar mais uma noite por lá….”, contou sorrindo.
Para o ex-aluno, estar ou entrar no DCC é uma experiência ótima, difícil e desafiadora, mas transformadora também. “A cobrança, os desafios, conhecimento, criatividade, confiança e contatos nacionais e internacionais dos professores, além do companheirismo e brilhantismo de colegas, colegas sensacionais e inspiradores. O DCC contribui tanto tecnicamente como pessoalmente, me ajudando a amadurecer e me preparar para as oportunidades, além de abrir muitas portas e possibilidades de estudo, trabalho, negócios e amizades. Entrei e saí várias vezes do DCC (risos). Fiz a graduação de 1997-2000. Colei grau duas vezes, uma sem festa em janeiro de 2001, com a turma que entrou na grade 97/1, e outra com baile e tudo que tínhamos direito com a turma que entrou na grade 97/2. Fiz o mestrado de 2002-2005 e o doutorado de 2011-2015. O DCC é uma inspiração, uma segunda casa, uma base que levarei por toda a vida e ao qual serei eternamente grato”, disse emocionado.
Enquanto estudava, Teixeira teve a orientação de diversos professores que, segundo ele, foram fonte de inspiração e ajuda em diversos aspectos. “O professor Antonio Alfredo Ferreira Loureiro me orientou no Trabalho de Conclusão de Curso e em artigos, o professor José Marcos Silva Nogueira me orientou no mestrado, no doutorado e no projeto SIS, um projeto de Inovação com a Telemar/Oi. Nesse projeto de Inovação do SIS, também contei com a orientação do professor Dorgival Olavo Guedes Neto. Ainda no mestrado, além do José Marcos, contei com a orientação da professora. Hao Chi Wong, que atuava na Intel na época, e, no doutorado, meu coorientador foi o professor Leonardo Barbosa de Oliveira. Durante o doutorado tive grandes contribuições e orientações também dos professores Daniel Fernandes Macedo e Fernando Magno Quintão Pereira. Também fui orientado no PoP-MG pelo Murilo Silva Monteiro, pelo Luciano Gomes e pelo László de Miranda Pinto, em um estágio muito bacana que fiz durante o processo de consolidação da Internet no Brasil, lá nos anos 98/99/2000. Além disso, fui orientado também pelo saudoso e finado professor Christiano Becker, em um projeto de empreendedorismo que culminou na pré-incubação na Fumsoft de uma empresa em 2000, o que acabou ajudando a fundar a Eteg Tecnologia”, contou.
Segundo Teixeira, se não tivesse passado pelo DCC provavelmente não estaria onde está nos dias de hoje. “Desde 2010 sou professor efetivo da Universidade Federal de São João del-Rei, no Campus Alto Paraopeba, que fica em Ouro Branco. Antes disso, atuei mais de dez anos em uma fábrica de Software em Belo Horizonte, onde participei de grandes projetos, como por exemplo, fui responsável pelo software embarcado nos SIMCard da Telemig, em 2005, e pela reestruturação do SIS/Telemar, em 2006. Participei, também, de vários projetos de Software para órgãos do Governo Federal, como, por exemplo, o Ministério de Minas Energia. Atualmente, tenho focado em projetos de Inovação e Pesquisa aplicada que envolvam parceria entre Universidade e Empresa ou órgãos federais. Coordeno um grande projeto ligado ao Seguro Rural, uma parceria entre a UFSJ e o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Atuo, também, em projetos de inovação com parceria entre UFSJ, CSN, IGAM, além de projetos de consultoria em IoT e Desenvolvimento de Software”, concluiu.
Teixeira foi um dos primeiros alunos do DCC com quem o professor Dorgival teve contato depois de retornar do doutorado. “O professor. José Marcos me convidou para participar de um projeto do qual o Teixeira também fazia parte. Eu coordenava as atividades dele e de mais um aluno, o que era muito tranquilo, pois os dois eram muito competentes e fáceis de lidar. Como era o meu primeiro projeto nessas condições no DCC, posso dizer que ele talvez tenha me ensinado mais do que o contrário! Na época ele já tinha uma atitude muito profissional, o que muito me ajudava na condução das atividades. Depois disso, em contatos esporádicos, tive a oportunidade de observar a evolução do Teixeira, até se tornar professor da UFSJ. Pela minha experiência, acredito que ele vai continuar tendo muito sucesso!”, disse orgulhoso.
Segundo o professor Daniel, a empolgação e a ligação à família são características que marcaram enquanto conviveram diariamente. “Teixeira é uma pessoa muito empolgada e que trabalha muito. Durante o mestrado, fui colega de trabalho dele no Laboratório de Redes de Alta Velocidade e ele sempre ficava até tarde da noite trabalhando, além de cuidar de filho pequeno. Falava da família a todo momento e sempre com um amor imenso. Ele é impressionante! Quando escuto alunos e outros profissionais falando que não tem tempo para nada, a minha referência é o Teixeira. Ele fazia o mestrado com toda a dedicação e competência, trabalhava como sócio de uma empresa e ainda dava atenção para a família”, contou sorridente.
De acordo com o professor José Marcos, Fernando Teixeira é daqueles que se formam na graduação, vão trabalhar na iniciativa privada, voltam para a academia para fazer o mestrado, vão trabalhar para o mercado novamente e retornam para a academia para fazer o doutorado. Mas, o Teixeira, fez um pouco diferente, fez a graduação, o mestrado e o doutorado em Ciência da Computação na UFMG e, atualmente, é professor em uma universidade federal. “Tive o prazer de ser orientador do Teixeira no mestrado e doutorado, neste último com coorientação do colega Leonardo Barbosa de Oliveira. Nessa época, cooperamos muito com a professora Hao-Chi Wong, atualmente na Intel USA. O Teixeira é uma pessoa extremamente gentil, de fino trato, muito tranquila e alegre. Sua competência profissional é notável, um excelente programador e que entende de código como poucos. Trabalhamos em diversos projetos de pesquisa, nacionais e internacionais, e cooperamos quando ele trabalhava em uma empresa privada – uma fábrica de software, como desenvolvedor de software do projeto SIS, que ainda estava em desenvolvimento. Hoje, trabalhando na UFSJ, ele é muito ativo, coordena diversos projetos, interage com a comunidade industrial da região e orienta muitos alunos. Fernando também fez um período de doutorado sanduíche na França, em Toulouse. Foi com a família e três filhos pequenos. As crianças brasileiras têm fama de serem barulhentas, muito diferentes das francesas. Ele me contava que passaram apertos com os vizinhos, morando em um apartamento e tentando fazer os pequenos ficarem quietos. Impossível! Sou muito grato de ter tido o Teixeira como aluno orientado e, hoje, professor, dando bom retorno à sociedade”, contou agradecido.