“O DCC é uma grande inspiração para mim”, afirma ex-aluno

Leandro Soriano Marcolino, ex-aluno da graduação do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, tem um vínculo tão forte com a instituição que, até os dias atuais, apesar de morar na Inglaterra há vários anos, sempre que está no Brasil vem ao DCC, não só para visitar, mas para repassar seus conhecimentos aos atuais alunos da graduação e da pós-graduação. Amante dos estudos desde sempre, fez Iniciação Científica sob a orientação do professor Luiz Chaimowicz, além de trabalhar com os professores Wagner Meira, no projeto LibertasBR, e Marcos Augusto dos Santos. “A minha Iniciação Científica com o professor Luiz no VerLab foi o mais marcante. Foi o verdadeiro início da minha carreira, e aprendi bastante. Não só em termos técnicos (programação, escrita em LaTeX, robótica, etc), mas também desenvolvi o próprio ato de se fazer pesquisa, desde o processo de escolher/encontrar um problema, desenvolver uma solução e avaliá-la, até o método da escrita de um artigo e a “luta” com o peer-review. Além disso, trabalhei com o Marcos como voluntário em projetos de bioinformática, o que também contribuiu muito para o meu desenvolvimento científico”, contou.

Leandro fez o mestrado e o doutorado em outras instituições, Futuro University – Hakodate e University of Southern Califórnia, mas, segundo ele, isso foi possível pela jornada que teve no DCC. “Meu mestrado e doutorado foram uma continuação da minha jornada, mas eu já tinha desenvolvido as sementes fundamentais de ser um pesquisador durante a minha Iniciação Científica no DCC. O departamento é com certeza a minha verdadeira “Alma Mater”. Foi lá que desenvolvi todo o conhecimento técnico e científico que levarei para o resto da minha vida. Além do desenvolvimento como pesquisador, mencionado acima, foi no DCC que “aprendi a aprender”. Recebi toda a base que me possibilitou ser capaz de aprender coisas novas e acompanhar o estado da arte. Acho que isso foi fundamental para mim, não só pelo DCC, mas através da UFMG como um todo. Por exemplo, as disciplinas na matemática foram também de extrema importância para minha formação, e serei eternamente grato à UFMG”, afirmou.

Além da Iniciação Científica (IC), Leandro conta que se desenvolveu muito quando fez parte do projeto LibertasBR, trabalhando com o desenvolvimento de distribuições Linux. “Isso foi antes da minha IC, e foi um excelente preparo técnico. Desenvolvi também durante o meu período no DCC uma paixão pela filosofia do software livre, que carrego até hoje. Além disso, muitas das coisas que desenvolvi durante meu tempo no DCC me acompanham até hoje. Foi durante a minha graduação na UFMG que comecei a jogar esgrima (através do marcante trabalho de extensão do Leonardo Portes), e Go (motivado por amigos do VerLab). Hoje são os dois hobbies que fazem parte de mim, que me trazem uma comunidade, e me dão grande força nos momentos de dificuldade. Da mesma forma, foi no meu tempo no departamento que escrevi o meu primeiro romance, e comecei a pincelar o meu segundo livro”, revelou.

Desde que terminou a graduação, Leandro visita o DCC todos os anos. A única exceção foi o período do Covid. “Quando visito o DCC o Luiz costuma falar que “o Leandro já é de casa”. Acho que realmente me sinto assim, visitar o departamento é como voltar para casa. O DCC foi fundamental para a minha posição atual. Além do conhecimento adquirido nas disciplinas, foi no departamento o verdadeiro início da minha carreira de pesquisador. Com certeza eu não seria quem sou hoje sem o DCC. Além disso, fiz grandes amizades durante o meu período no departamento. Muitas destas amizades viraram também grandes parceiros profissionais. Por exemplo, ainda publico ativamente com o Luiz Chaimowicz, e o professor Erickson Nascimento. O Erickson era um aluno de mestrado na época em que eu estava fazendo minha IC, e agora publicamos juntos. Além disso, fiz novos contatos com pessoas que passaram pelo DCC mesmo depois que já havia saído. O Yuri Tavares dos Passos, por exemplo, foi aluno de mestrado do Luiz, e iniciamos uma colaboração. Hoje ele está finalizando o doutorado comigo em Lancaster. Anderson Rocha Tavares também foi aluno do Luiz, e hoje é um grande colaborador. Também escrevi um artigo com o Rafael Sahb, meu amigo da graduação, que mantenho contato até hoje. Já tive grandes discussões acadêmicas e literárias com o Armando Alves Neto, que estava fazendo mestrado no VerLab durante a minha IC e, hoje, ele é professor no Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG. Sem falar na Sabrina de Azevedo Silveira, minha colega da graduação e agora colaboradora em projetos de bioinformática. Enfim, é até difícil listar todos, e é um perigo mencionar só alguns (risos), foram tantos contatos importantes… Hoje, graças ao DCC, tenho uma grande rede de apoio pessoal e profissional”, disse emocionado.

Devido à sua experiência, Leandro valoriza muito a Iniciação Científica, e a pesquisa feita por alunos de graduação. “A IC é grande desenvolvedora de talentos, e temos no Brasil alunos brilhantes. Esta cultura na verdade não é comum na Inglaterra, e eu tento muito valorizar e fomentar a pesquisa de alunos de graduação lá. Além disso, sempre penso nos meus melhores professores e nas aulas inspiradoras que tive no DCC quando preparo minhas próprias aulas. O DCC é uma grande inspiração para mim. Não consigo nem imaginar minha vida sem ter passado pelo DCC. Acho que acabaria passando pelo DCC de alguma forma”, falou.

Leandro passou por diversos desafios durante a sua graduação, mas, também, por grande crescimento. “Não faltaram desafios enquanto estive no DCC. A graduação tem muitas pressões de provas e trabalhos, e exige mesmo uma grande dedicação e capacidade de gerenciar o tempo. Além disso, programar requer calma e paciência, o que não é fácil em meio ao stress e pressões de deadlines. É, realmente, um período muito desafiante, mas de grande crescimento. Mas, se posso dar um conselho, talvez o ideal para quem está passando por isto seria tentar encarar os desafios de uma forma positiva, quase como se fosse um “jogo”, e aproveitar ao máximo este momento. Imagino que seria útil manter também práticas esportivas, para lidar melhor com stress e ansiedades. Por exemplo, a esgrima me ajudou muito durante o meu período na graduação”, relatou.

Para quem está no DCC ou deseja entrar, Leandro ressalta a importância de aproveitar o tempo. “Aproveite muito o seu tempo na UFMG, além das matérias e dos estudos formais. A universidade tem muito a oferecer, desde as atividades esportivas até as grandes oportunidades profissionais. É muito importante ser um aluno engajado. Aprendemos muito quando nos envolvemos com problemas reais para resolver, e conversando com outras pessoas da área. Outra coisa importante são os contatos que fizer durante essas atividades, todos serão úteis para todo o resto da sua carreira. Além disso, poder listar experiências anteriores no currículo, e comentar sobre elas em entrevistas, é de grande valor em futuros processos de seleção. Eu recomendaria a todos os alunos a fazerem Iniciação Científica, mesmo para aqueles que acham que não vão seguir carreira acadêmica. O aprendizado e o crescimento adquirido durante a IC serão úteis até na indústria, além de ser uma grande preparação para um possível mestrado. Outra coisa é que é de grande valor ter esta experiência, até mesmo para ajudar o aluno a decidir se prefere seguir uma vida acadêmica ou ir para a indústria. Durante a IC pode surgir uma inesperada paixão pela pesquisa”, disse.

Já para os alunos de mestrado e doutorado que estão no DCC, Leandro recomenda tentar se concentrar na pesquisa, e tentar não ter um (outro) emprego ao mesmo tempo, se possível. “Eu sei que as situações de vida são complicadas, claro, e muitas vezes um emprego paralelo acaba sendo necessário. Mas, por outro lado, normalmente a gente só faz mestrado e doutorado uma vez na vida, e é uma grande oportunidade de alavancar sua vida acadêmica. Eu diria que o verdadeiro valor de um doutorado não é o diploma em si, mas sim o crescimento adquirido durante o processo, e as publicações geradas durante o seu tempo no programa. Hoje sou professor na Universidade de Lancaster, na Inglaterra (https://www.lancaster.ac.uk/lira/people/leandro-soriano-marcolino). Faço pesquisa na área de Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina. Minha pesquisa envolve aprendizado e tomadas de decisão em tempo de execução. Por exemplo, para se desenvolver jogadores artificiais de jogos, ou para controlar robôs. Eu lidero um laboratório (LSM’s CoLab) com muitos alunos de doutorado vindos de vários lugares do mundo, incluindo brasileiros. Também costumo receber alunos brasileiros como visitantes de pesquisa”, contou.

Pai de dois filhos, além de pesquisador, Leandro também é escritor. “Tenho dois livros publicados na Amazon: “Vida” (http://www.leandromarcolino.com.br/?page_id=5) e “O Grande Livro das Pessoas sem Nome” (http://www.leandromarcolino.com.br/?page_id=8). O primeiro é um romance, e o segundo é um livro de contos. O meu site de escritor está desatualizado, mas os livros ainda estão lá, disponíveis gratuitamente. Atualmente estou finalizando a tradução do meu primeiro livro para o inglês. Também tenho dois filhos, adoráveis misturas do Brasil com a Tailândia”, disse apaixonado.

Segundo o professor Luiz, Leandro foi um aluno brilhante. “O Leandro foi meu primeiro aluno de IC. Ele foi um aluno brilhante, sempre muito curioso e interessado pela pesquisa, além de outros temas diversos como literatura, esgrima e o jogo de GO. O seu trabalho, na área de coordenação e controle de congestionamento de enxames de robôs, gerou publicações relevantes e foi premiado em primeiro lugar no Concurso de Trabalhos de Iniciação Científica da Sociedade Brasileira de Computação (CTIC-SBC), em 2009. Posteriormente, ele fez o mestrado no Japão, com uma prestigiosa bolsa do governo Japonês, e doutorado na University of South California, orientado pelo professor Milind Tambe. Durante todo esse período, mantivemos contato. Conversamos sobre pesquisa, carreira acadêmica, entre outros assuntos. Hoje ele é professor na Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e mantemos uma profícua colaboração, com projetos de pesquisa em conjunto, coorientação de alunos e publicações. Fico muito feliz com o seu sucesso acadêmico e é sempre bom reencontrá-lo toda vez que vem ao Brasil”, afirmou sorridente.

Para o professor Marcos Augusto, o Leandro é daquelas referências que marcam a vida de qualquer professor. “O Leandro foi tão marcante, que meu filho Pedro, que o conheceu quando estudou no ICex, não raro me pergunta se tenho cruzado com outros Leandros por aqui. Tive o prazer de ministrar quatro disciplinas para ele. Neste ínterim, um dos trabalhos dele comigo ganhou menção honrosa na semana de Iniciação Científica da UFMG e outro foi publicado em um periódico. Tais resultados até hoje me acompanham; passo para os alunos o código que ele produziu e que resolve um problema interessante e atual na área de matemática aplicada, muito útil na área de IA. Com o código, os alunos conseguem visualizar no espaço tridimensional entidades em um domínio n-dimensional. Cumpre dizer que ele não era formalmente um aluno meu de Iniciação Científica ou monitor. Estas atividades premiadas foram feitas como desdobramentos dos trabalhos das disciplinas. Durante esse período de graduação, buscando talvez orientá-lo na sequência da sua trajetória, perguntei sobre os professores que ele havia tido. Tenho comigo que os mestres dos quais os alunos se recordam, serão sempre uma luz na trajetória que eles escolherem. E, acho sim, acho que na graduação os estudantes precisam de uma ou duas referências. A resposta que o Leandro me deu ilustra bem a sua personalidade: “Todos os professores que tive e venho tendo aqui na universidade são excepcionais. Todos eles portam uma pérola a ser admirada, basta saber enxergá-la”. Não é demais? É sempre um prazer ver o Leandro nos visitando aqui no DCC. Nutro muito o sonho de, um dia, ele vir a ser professor nosso. Tenho certeza de que ele faria história aqui no nosso departamento. Exerceria com maestria a docência e teria aqui espaço para tocar de forma marcante a pesquisa que vem desenvolvendo no exterior”, afirmou sorridente.

Para saber mais sobre o Leandro acesse seus sites e redes:
Site acadêmico: http://wp.lancs.ac.uk/colab/
Site de escritor: http://www.leandromarcolino.com.br/
Twitter: https://twitter.com/LeandroSMarc_AI

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