“Minha vida profissional foi toda construída na UFMG, no ICEx e no DCC, desde os tempos de estudante”, diz professor do DCC/UFMG

Com vínculo com a Universidade Federal de Minas Gerais desde 1971, quando iniciou a graduação em Engenharia Elétrica, José Marcos Silva Nogueira, logo que possível, mudou o vínculo de estudante para professor no Departamento de Ciência da Computação (DCC/UFMG), em 1980. Enquanto estudante, José Marcos cursou o mestrado em Ciência da Computação, doutorado em Engenharia Elétrica e dois pós-doutorados. Hoje, professor titular aposentado voluntário do DCC/UFMG, José Marcos considera que teve uma carreira profissional da qual tem muito orgulho. “Tive muitos alunos e de todos os tipos, coordenações diversas, tanto na graduação quanto na pós-graduação, representações variadas, projetos interessantes de pesquisa e desenvolvimento. Orientei até agora 45 alunos de mestrado e 15 de doutorado, bem como dezenas de estudantes de graduação (iniciações científicas, estágios, trabalhos de fim de curso)”, contou orgulhoso.

Casado com Ângela, Nogueira tem duas filhas (Maíra e Janaína) e um casal de netos de 6 anos (Helena e Theo). O professor brinca que sua idade pode ser descoberta pela data do primeiro estágio, que ocorreu em 1972, no Centro de Computação da UFMG. Mineiro de Passos, José Marcos conta que foi criado com leite de búfala e queijo canastra. Nas horas vagas, que por ainda trabalhar considera poucas, gosta de ler livros de gênero literário moderno, como romances e contos, além de não-ficção, como biografias e política. “Adoro fazer trabalhos braçais e artesanais e coisas do tipo “marido de aluguel”. Pratico corrida de rua e, às vezes, de trilha. Participo também de alguns blocos de carnaval tocando surdo, um instrumento de percussão. E, o melhor de tudo, gosto de ficar com os meus netos”, disse sorridente.

Conhecido do José Marcos há uns 20 anos, o professor Daniel Macedo, não o considera mais um colega, mas um amigo. “Fui aluno do José Marcos na graduação e orientado por ele na Iniciação Científica e na pós-graduação e, estamos há algum tempo interagimos como professores. É um cara que não considero como colega, considero como amigo. Ele está comigo em todos os momentos importantes da minha vida. Participou do meu casamento e, recentemente, com toda essa grande confusão por conta da covid me tranquilizou, esteve em minha casa, conheceu o meu filho, enfim, é muita história pra contar. Têm duas coisas que todo orientado e colega do José Marcos aprende: a primeira é a importância da escolha das palavras – quando estiver escrevendo um artigo com ele, ou fazendo uma proposta de projeto, vai ter algum momento que vocês irão passar uma hora discutindo qual é a palavra correta pra falar alguma coisa. Ele vai ter várias opiniões e vai escutar a sua, mas para ele é sempre muito importante usar a palavra correta, porque muda todo o entendimento da mensagem que está fazendo. A segunda é uma ambição, talvez não de trabalho, mas de vida. É uma de várias lições de vida do Zé Marcos: sempre viaje com um canivete, pois o canivete é muito importante (risos). Você pode comprar um queijo e cortar um queijo, pode comprar um vinho, abrir o vinho e tomá-lo. Então, ele sempre diz: quem anda com um canivete sempre está feliz, porque sempre pode comer e pode beber. E não é somente isso, o canivete tem várias outras funcionalidades, como uma chave de fenda. Sendo assim, é aquele elemento que te salva de todos os problemas e o Zé Marcos sempre que viaja, até pra fora do país, leva consigo o canivete dele”, relatou.

Com muita história para contar, José Marcos bateu um papo descontraído com a Comunicação do DCC/UFMG e falou de tudo, desde a época de estudante, da carreira como professor/pesquisador, dos alunos e do DCC/UFMG. Veja abaixo:

O que te motivou a escolher a área de Ciência da Computação?

Comecei a me envolver com a área de Ciência da Computação já no segundo ano do curso de Engenharia Elétrica, ainda no Instituto de Ciências Exatas da UFMG (ICEx), primeiramente como monitor da disciplina Programação Computadores e depois como estagiário na Divisão de Tecnologia do Centro de Computação (CECOM), na Reitoria da UFMG. Isso foi no ano de 1972. Continuei como estagiário trabalhando em projetos de pesquisa e desenvolvimento de software e hardware, na época em que havia um movimento incipiente para o desenvolvimento de tecnologia nacional para a indústria de software e hardware. Ao terminar o curso de graduação, entre algumas ofertas de trabalho no mercado de trabalho fora da universidade, acabei optando por ficar e fazer o mestrado em Ciência da Computação na UFMG. E, desde então, estou no DCC/UFMG!

Qual foi o maior desafio, incentivo e inspiração enquanto estudante, desde a graduação? 

Um grande desafio foi levar bem o curso de Engenharia, no centro de Belo Horizonte, enquanto era estagiário no Campus da Pampulha da UFMG. Um nome de referência e de inspiração para mim sempre foi o professor Wilson Pádua Filho, um dos fundadores do DCC/UFMG. Também muitos colegas de curso e de estágio contribuíram para que eu gostasse da área e do ambiente.

O que mais te marcou durante o período de estudante?

Uma vida muito ativa em diversos aspectos: acadêmica (o curso de Engenharia Elétrica exigia muito estudo e trabalho); os colegas do curso e do CECOM, e depois o DCC (ótimas amizades, vida social muito ativa em BH); familiar (pais morando no interior, longas viagens de ônibus, uma turma de excelentes amigos, até hoje).

O que o motivou a ser professor?

Foi um desdobramento natural de minhas atividades de estudo de pós-graduação e trabalho no DCC/UFMG. Fiz concurso para professor logo que terminei o mestrado.

O que te inspira como professor?

Uma das coisas que me inspiram como professor é a possibilidade de poder contribuir com a formação de pessoas para o nosso país. Outra são os próprios alunos, com suas curiosidades, entusiasmo e juventude.

Como você se define como professor?

Considero-me um professor que leva a sério a profissão, que gosta dos alunos, mas que têm deficiências também. Penso que os alunos aprendem um pouco nos meus cursos.

O que você ensina no DCC/UFMG, e como você o faz?

Minha área principal de ensino é redes de computadores, mas já ensinei diversas outras matérias. Mas o ofício de ensinar é o contínuo aprender.

Por que decidiu ir para a área de pesquisa e não para o mercado de trabalho?

Certa vez, ainda na graduação, ao término de um projeto em que trabalhava como programador, fui convidado a trabalhar na organização que financiou o projeto. Fui. Era em um ambiente no centro de BH, numa sala que só se via prédios pela janela, quase só eu na sala. Fiquei lá pouco mais de um mês, voltei para o campus!

O que o inspira em suas pesquisas?

Nas atividades de pesquisa, em minha área, a pesquisa é quase sempre feita em parceria, com professores e alunos envolvidos, tornando a atividade mais interessante e agradável. Além de poder contribuir de alguma forma gerando algum conhecimento, a pesquisa em computação oferece muitas oportunidades de relacionamentos profissionais com colegas do país e do estrangeiro. Gosto de ver os alunos aprenderem e amadurecerem nas atividades de pesquisa, escrita e apresentação de trabalhos.

Qual o maior objetivo das suas pesquisas?

Talvez o maior seja aprender coisas novas, coisas que não são ainda do conhecimento geral. Levar os conhecimentos gerados para a sociedade é também uma motivação.

No geral, qual o impacto das suas pesquisas no dia a dia das pessoas?

O impacto de minhas pesquisas no dia a dia das pessoas não é simples de aferir, exceto no caso dos alunos diretamente envolvidos, que se tornam professores e pesquisadores e continuam repassando conhecimentos. Mas no meu caso, os impactos não são percebidos imediatamente.

Qual o maior desafio que encontra para realizar as pesquisas?

No Brasil temos muitas dificuldades para realizar pesquisa, desde a obtenção de recursos até a efetiva aplicação dos resultados. O suporte administrativo e de infraestrutura é um problema geral na pesquisa; no caso do DCC, entretanto, podemos considerar que estamos relativamente bem nesse aspecto. Uma grande dificuldade atual é conseguir bons alunos para trabalhar nos projetos; há uma grande demanda no mercado de trabalho para nossos alunos.

O que em sua opinião não pode faltar em um pesquisador? Por que?

Um pesquisador deve ter uma série de características próprias do ofício, entre elas a curiosidade, a vontade de enfrentar desafios, a perseverança e resiliência. Pode acontecer, e não é raro, que uma proposta de projeto de pesquisa seja submetida muitas vezes a financiadores até ser aceita (ou não!).

Como vê os alunos do DCC?

Vejo os alunos do DCC, ao longo desse tempo todo de docência, em geral são interessados no curso, no aprendizado e geralmente bem formados. Antes mais que agora, mas com as exceções que nos fazem manter o entusiasmo de ensinar.

O que não pode faltar em um aluno do DCC?

Vontade de aprender e de trabalhar, trabalhar em conjunto, cooperar com a equipe em que fizer parte.

O que representou e representa o DCC em sua vida estudantil e agora profissional e, até mesmo, no campo pessoal?

Como já disse, minha vida profissional foi toda nesse meio acadêmico, na UFMG, no ICEx e no DCC, desde os tempos de estudante. Vejam que estou na UFMG desde o terceiro colegial (hoje ensino médio), embora tenha tido e aproveitado oportunidades de estudar fora (doutorado) e períodos sabáticos (ou pós-doutorado) no exterior. No campo pessoal, afetivo, fiz muitas amizades duradouras com colegas da administração, professores e ex-alunos. Valeu muito a pena, e ainda está valendo!

Como você define o DCC?

O DCC é um excelente exemplo de um departamento acadêmico sério, responsável, ciente de seu papel no mundo da educação e na sociedade em geral. Um local ótimo de se trabalhar, tanto pelos colegas como pela estrutura oferecida.

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