“Eu sempre aprendo muito mais do que ensino”, afirma professor do DCC/UFMG

Durante os anos escolares, Cristiano Arbex Valle sempre teve mais aptidão para a matemática, sendo as ciências exatas o caminho natural a seguir. Nos anos 90, teve os primeiros contatos com computadores, o que imediatamente chamou sua atenção. Assim, a escolha deste caminho foi natural, mas, segundo ele, totalmente inocente. “Somente após entrar no DCC/UFMG para a graduação em Ciência da Computação aprendi que, por exemplo, para programar devemos escrever códigos em arquivos texto. Por sorte, me identifiquei progressivamente com a área na medida em que avançava no curso, mas, enquanto estudante, descobri que ter sido uma criança prodígio na escola não significava nada na faculdade”, relatou.

Após a graduação, Cristiano fez o mestrado também no DCC/UFMG, já o doutorado, foi em Matemática, na Brunel University London, na Inglaterra e o pós-doutorado voltou para a UFMG. Desde 2016, Arbex, como é conhecido entre os colegas, é professor do Departamento, onde leciona Cálculo Numérico, Análise Numérica e ocasionalmente Pesquisa Operacional e Finanças Quantitativas. Também já ensinou Algoritmos e Estruturas de Dados. “Tento criar um ambiente confortável para que os estudantes sintam-se “em casa” e possam tirar proveito do material que ensino”, contou.

Sempre encantado com a Matemática, principalmente a parte aplicada, logo que Cristiano se formou foi trabalhar como desenvolvedor de software, mas, de acordo com ele, rapidamente ficou entediado e com uma sensação de estagnação. “O meio acadêmico me proporcionou o “algo a mais” que eu sentia falta, a sensação de aprendizado contínuo. Minha principal motivação para ser professor, na verdade, é ser pesquisador – principalmente em relação à liberdade de trabalhar nos temas do meu interesse. Além disso, a possibilidade de interagir constantemente com mentes brilhantes. Como professor, temos a necessidade de atualização contínua de conhecimento. “Estudei” diversos tópicos, mas muitos deles eu só realmente aprendi quando tive que ensinar. Eu sempre aprendo muito mais do que ensino”, afirmou.

Cristiano decidiu ter um pé de cada lado do muro: na pesquisa e no mercado de trabalho. “Trabalhei muitos anos no mercado de trabalho, a rotina repetitiva e a sensação de estagnação me motivaram a buscar algo onde eu fosse constantemente desafiado, aprendendo continuamente. Hoje dedico-me à pesquisa aplicada, buscando aplicar o que aprendo no dia a dia em problemas práticos. A curiosidade de resolver problemas difíceis do mundo real me inspira. O desafio de tirar sentido de algo “caótico” e conseguir produzir soluções úteis e relevantes é mágico. Considero minha experiência profissional, além da acadêmica, essencial para a forma como gerencio meu trabalho acadêmico”, afirmou.

Casado, Arbex tem uma filha que completou 5 anos recentemente e que é sua prioridade número um. Nas horas vagas, além de ficar com a família, Cristiano gosta de curtir a natureza, praticar esporte e, também, é muito apreciador da fotografia.

Segundo o professor Geraldo Robson Mateus, Cristiano foi seu aluno na graduação e desde cedo manifestou interesse em Otimização e Pesquisa Operacional. “Talvez atraído e interessado pelas aplicações, solução de problemas, mercado e já direcionando para uma escolha futura de atuação na linha de finanças. Será o faro de financista que já estava ativo? Relaxado, nem tão comprometido, mas era participativo! Posteriormente, foi trabalhar no Laboratório Synergia, mais uma vez um local em que a interface entre a academia e o mercado estava presente. Passei a ser seu Chefe! O certo é que posteriormente entrou para o mestrado em Otimização, mas não me escolheu como orientador, não fui tão convincente! No entanto, sempre elogiou o professor e explicitou a importância da disciplina de Pesquisa Operacional. Após idas e vindas, Cristiano acabou em um doutorado em Otimização Aplicada no contexto de finanças e retornou às origens. Ou seja, mesmo parcialmente consegui criar um discípulo, que embora não parecesse estava bastante comprometido e interessado!”, relatou.

Já o professor Rodrygo Luis Teodoro Santos, conta que Arbex é figurinha clássica no DCC (bem antes da era dos stickers), quando ostentava sua vasta cabeleira no álbum do campeonato de futsal do Departamento. “Depois da carreira frustrada no futebol, enveredou pelo showbiz internacional, quando pavimentou o caminho para o sucesso no Universo Cinematográfico Marvel (MCU) ao estrelar seu primeiro blockbuster (mancando com alta carga dramática em 1min16seg). Insatisfeito com a fama e fortuna, em busca de uma causa nobre, concluiu o doutorado em matemática e passou a atuar como consultor de investimentos. Por fim, ignorando seus próprios ensinamentos financeiros, retornou ao DCC como professor, além de crítico da alta gastronomia mineira e observador atento do nível dos reservatórios”, contou.

No bate-papo com a comunicação do DCC/UFMG, Arbex também falou do objetivo de suas pesquisas, dos alunos do DCC e muito mais. Veja abaixo:

Qual o maior objetivo das suas pesquisas?

Trabalho muito em duas áreas, finanças e logística. Em logística, meu maior objetivo é melhorar o estado da arte em alguns problemas práticos e difíceis. Em finanças, busco entender e explorar as propriedades das séries temporais para produzir carteiras de investimento que melhor atendam certos critérios. Em outras linhas de pesquisa, a meta é satisfazer minha curiosidade acadêmica.

No geral, qual o impacto das suas pesquisas no dia a dia das pessoas?

Não especificamente os meus trabalhos, mas os resultados de pesquisas em otimização e matemática aplicada em geral resultam em mudanças contínuas na forma como vivemos, sejam positivas ou negativas. O meu trabalho é apenas mais um neste mar de pequenas contribuições que, juntos, tanto afetam o dia a dia das pessoas.

Qual o maior desafio encontra para realizar as pesquisas?

A falta de recursos é um empecilho, infelizmente. Outro desafio em relação à pesquisa aplicada é que sempre há interseção com pessoas, muitas vezes brilhantes, que entendem bem os problemas do mundo real, mas que não conhecem ou não veem o potencial da aplicação da matemática na resolução dos mesmos.

O que em sua opinião o que não pode faltar em um pesquisador?

A sensação de que ainda não sabemos nada e que há muito a aprender.

Como vê os alunos do DCC?

Desde que fiz cirurgia de miopia, sem óculos (rs…rs…rs..)

O que não pode faltar em um aluno do DCC? Seja aquele que deseja ingressar na pesquisa ou no mercado de trabalho.

Não cair na “zona de conforto”. Aprender onde buscar ajuda – seja com colegas, professores ou nos infinitos recursos na Internet. Saber inglês é primordial para tirar proveito de tudo que está disponível. E, aproveitando para responder também a pergunta anterior, já vejo estas características nos alunos do DCC.

O que representa o DCC, como estudante e profissionalmente e, até mesmo, no campo pessoal?

Contando que fiz graduação, mestrado e trabalho aqui desde 2016, como minha segunda casa.

Como você define o DCC?

Comparando a época em que eu era aluno de graduação e hoje, é impressionante o quanto o DCC se desenvolveu neste período. Apesar de decisões dúbias, como a minha contratação (risos), vejo o Departamento claramente melhor, com alta diversidade nas linhas de pesquisa e mais integrado com a sociedade.

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