‘Estive no DCC em 2018 e foi como se visitasse a casa dos pais depois de anos fora. Até o “cafezinho da Antônia” eu reencontrei!’, conta emocionada ex-aluna do DCC

Daniela Seabra Oliveira é ex-aluna da graduação e do mestrado do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG). No mestrado, foi orientada pelo professor Berthier Ribeiro-Neto, após sair do DCC, em 2004, cursou o doutorado na University of California, Davis. Hoje é professora do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação na University of Florida nos Estados Unidos. Atualmente está licenciada da Universidade e atua como diretora de Programas de Pesquisa de Segurança Cibernética na National Science Foundation, em Washington DC.

De acordo com a ex-estudante, foi no DCC que fez os melhores amigos e amigas, aos quais convive intimamente e de forma diária até hoje, mesmo que ainda no espaço cibernético. “Entre graduação, mestrado e emprego no convênio do Laboratório de Engenharia de Software e Sistemas (Synegia), passei dez anos da minha vida no DCC e fiz os meus melhores amigos e amigas. Também foi onde tive a primeira experiência de pesquisa e de trabalho. E, mais importante, foi no DCC que conheci – na festa de 20 anos do Departamento – meu marido, Marcio Oliveira, também ex-aluno, com quem estou casada há quase 18 anos e tenho uma filha e, além disso, as filhas de quatro professores do DCC foram minhas damas de honra”, contou.

A decisão de Daniela por estudar Computação no DCC/UFMG foi um pouco, segundo ela, peculiar. “Meu primeiro contato com computadores foi na minha pré-adolescência, numa era pré-Internet, em Ipatinga, interior de Minas Gerais, ao assistir a novela Fera Radical da Rede Globo. Na história, a jovem analista de sistemas Claudia (interpretada pela belíssima Malu Mader) usava seus conhecimentos de informática para descobrir os segredos do funcionamento das empresas de Altino Flores (interpretado pelo saudoso Paulo Goulart). Achei o máximo ver aquela mulher poderosa, que usava calça e casaco de couro pretos e que dirigia uma moto, adquirir tantas informações só usando os conhecimentos sobre computadores. Pensei que queria ser ela quando crescesse… Alguns anos depois, quando estava no segundo grau, nos anos 90, ex-alunos do meu colégio tinham o costume de retornar à cidade e à escola para discutir a experiência deles na faculdade. Por uma coincidência incrível, alguns deles eram alunos do DCC: Antonella Lana, Sergei Gomes, Erik Fonseca e, claro, Renato Ferreira, que hoje é professor do Departamento. A mensagem deles era clara: Computação é a profissão do futuro (quão certos eles estavam!) e, se você gosta de matérias da área de exatas (Matemática e Física), então Computação é para você. Opa, pensei, então é para mim!”, relatou.

Após este início, Daniela fez o vestibular, em 1994, e ficou como a oitava excedente. Mas, de acordo como em um roteiro de novela da Globo, na segunda semana de agosto de 1994, foi chamada. “As aulas já tinham começado há duas semanas e me senti chegando de “gaiata”. Foi tudo muito surreal porque, como o semestre já tinha começado, meu ciclo básico de matérias acabou não sendo com a minha turma da Computação e minhas aulas eram em horários aleatórios, o que prejudicava a minha adaptação. Aos 18 anos, morando em uma cidade grande pela primeira vez, era muito ingênua em vários aspectos. Por exemplo, ainda tinha a mentalidade de cidade de interior de “almoçar em casa”. Só que morava no bairro Sion, há uma hora de ônibus da UFMG. Não tinha como”, descreveu.

Segundo a ex-estudante, no início as matérias do ciclo básico eram muito difíceis e teve dificuldades para se adaptar ao ritmo universitário, onde, segundo ela, os professores não dão o mesmo nível de atenção que geralmente recebem no colégio. “Eram os anos 90 e não havia Internet como conhecemos hoje. Então, se eu não entendesse um tópico durante a aula, ou se o livro-texto (alguns eram em Inglês!) não explicasse o conceito de forma clara, bem… não havia plano B. Não havia o Google para procurar outras fontes de informação, ou a Amazon para procurar um livro-texto mais didático, ou a Coursera para tentar achar uma aula mais didática. Consequentemente, tirei notas baixas no início e o sentimento de impotência perante a situação era frustrante”, desabafou.

De acordo com Daniela, para os calouros, as aulas de Computação também não foram fáceis e os professores geralmente pressupunham que o aluno chegava com algum conhecimento de programação. “Muitos dos meus colegas, a grande maioria homens, já chegavam no curso com experiência em algoritmos, tinham, por exemplo, passado pelo Coltec ou CEFET. Isso só diminuía a minha autoestima que já estava baixa. Para piorar, havia uma baixa representação de mulheres no curso. Por exemplo, na minha turma de 40 alunos havia apenas nove mulheres, as “Muié da Sala”, como éramos referidas pelos rapazes. Quase todas nós tínhamos perfil parecidos: vindas do interior, sem experiência prévia em programação, passando por uma crise de autoestima ao ver os colegas homens com experiência prévia avançar no curso enquanto quase morríamos para fazer o básico”, desabafou.

Mas, o tempo passou e, conforme a ex-aluna, ela e as “Muié da Sala” foram se adaptando, aprendendo, criando resistência às adversidades e melhorando. A partir do segundo ano, Daniela teve a oportunidade de ter uma experiência científica nos Laboratórios dos professores José Lopes de Siqueira Neto, Alberto Henrique Frade Laender, Claudionor José Nunes Coelho Júnior e Berthier Ribeiro-Neto. “Minhas notas melhoraram substancialmente e tive total apoio do professor Berthier para aplicar para o mestrado e, após isto, em 2003, fui para o doutorado nos Estados Unidos com o apoio em cartas de recomendação dos professores Berthier, Claudionor, Antonio Alfredo Ferreira Loureiro, e Sérgio Vale Aguiar Campos, que um ano depois viram suas filhas serem damas de honra em meu casamento”, disse.

Parte das “Muié da Sala” em um dos Laboratórios do DCC, no meio dos anos 90. Da esquerda para direita: Fabiana Ruas, Júnia Gaudereto, Patrícia Marques, Patrícia Aguiar e Gisele Mesquita. Na segunda foto temos o encontro das “Muié” e suas famílias.

Dezoito anos depois, Daniela ainda sente o DCC como sua casa. “Estive no Departamento em 2018 e foi como se visitasse a casa dos pais depois de anos fora. Até o “cafezinho da Antônia” eu reencontrei! As “Muié da Sala” (Junia Gaudereto, Fabiana Ruas, Gisele Ferreira, Patricia Aguiar, Patricia Marques e eu) nos falamos quase todos os dias via grupo do WhatsApp. Apesar de espalhadas pelo Brasil e pelo mundo (Estados Unidos, Cingapura, e Portugal) nos encontramos uma ou duas vezes por ano, seja no Brasil ou em outro país. Trinta anos depois da decisão de entrar no DCC, a Computação ainda é a profissão do futuro. Para quem quer entrar ou está entrando no Departamento alguns conselhos: dê valor a todas as oportunidades, adquira fluência no Inglês, tente trabalhar em algum Laboratório de pesquisa logo no início do curso, use os recursos da Internet (livros e cursos) para aprender, e faça matérias em outros Departamentos: psicologia social (tem um humano usando cada tecnologia que construímos), estatística, e métodos de pesquisa. E o mais importante, cultive e valorize seus relacionamentos humanos”, falou emocionada.

Visita da Daniela ao DCC, em 2018, com a filha, a mãe Gesa e o pai Enio, além da filha Brooke. Na primeira foto Daniela e a filha estão ao lado da secretária administrativa do DCC Renata Viana Moraes e, na segunda foto, ao lado do professor José Marcos Silva Nogueira.

Para Daniela, se não tivesse passado pelo DCC não estaria onde está hoje e não teria feito tantas conquistas pessoais e profissionais. “Bem, exceto a calça de couro que a Malu Mader usava na novela Fera Radical e a coragem dela em dirigir uma moto, o que ainda não adquiri, o que acho que já é pedir demais do DCC (risos), consegui o que desejei quando assisti a novela”, concluiu.

De acordo com o professor Sérgio Campos a ex-estudante era tímida, competente, dedicada e, às vezes, para um professor ficava a dúvida se era timidez, alguma falta de conhecimento ou insegurança, já que fazia poucas intervenções e participações. “Daniela sempre fez um bom trabalho e, durante o mestrado, fez tudo corretamente, fomos caminhando e ela nos surpreendeu de forma muito positiva. A primeira surpresa veio quando fizemos uma apresentação para testar sua defesa de mestrado. Era uma apresentação em inglês, o que normalmente trás desafios para muitos alunos. E era a primeira apresentação que a Daniela estava fazendo que nós víamos. Me preparei para, como é comum entre nossos alunos, uma apresentação em que faríamos diversas intervenções para explicar como fazer, o que mostrar, o que não mostrar, como falar, e também como dizer certas palavras em inglês. Me preparei então para gastar algumas horas para ver uma apresentação de 45 minutos. Pois bem, a Daniela começou a apresentação com um inglês excelente, todos os slides preparados exatamente como deveriam ser. Sua fala foi absolutamente correta, tudo dito na hora certa. Após os 45 minutos, (ela concluiu a apresentação exatamente no tempo) simplesmente não tínhamos nada para falar, nada para corrigir e nada para sugerir. Foi o início de uma carreira brilhante como aluna e depois
professora nos EUA. Fiquei sabendo depois que ela ganhou diversos prêmios e projetos como professora em um ambiente muito
competitivo como o norte-americano. Não me surpreendi, a semente estava plantada desde o início”, disse orgulhoso.

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