Linnyer Beatrys Ruiz Aylon, ex-aluna do doutorado do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas (DCC/UFMG), foi orientada pelo professor José Marcos Silva Nogueira, que conheceu em 1994 no Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e, em 1996, participou da banca de mestrado da ex-estudante, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “Participo há 28 anos do Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores, onde conheci o professor e, inclusive, no ano passado, fui uma das coordenadoras do Hackathon depois de muitos anos como membro do Comitê de Programa. Sempre acompanhei os projetos que o professor José Marcos estava envolvido, além dos professores Geraldo Robson Mateus e Antônio Alfredo Ferreira Loureiro. Minha decisão em ir para o DCC foi muito serena, firme e ciente de que iria mudar a minha vida como pesquisadora”, contou.
Nascida na década de 70, em Cianorte, no interior do Paraná, Linnyer sonhava em ser cientista desde que soube da história da Laika, a cachorrinha que foi lançada ao espaço pelos Russos. Na época, ainda bem criança, queria muito buscá-la e procurou saber como conseguiria buscá-la “Me disseram que teria que fazer Engenharia ou Computação, mas que isso não era coisa para menina e era impossível para alguém do interior. Descobri a história da Laika por meio da embalagem de um chocolate que comprei de um senhor em uma Kombi vermelha que passava na minha rua vendendo verduras e outras coisas. Aos quatro anos, decidi que teria uma kombi vermelha como a do verdureiro, seria cientista e mãe de um filho. Hoje tenho uma kombi vermelha, um filho de 14 anos chamado Don e sou uma cientista que se mobiliza para incentivar meninas a participarem da Computação e das Engenharias, motiva estudantes do interior a se tornarem possíveis e trabalha para empoderar mulheres para que cresçam em suas carreiras”, afirmou.
Linnyer teve toda a vida estudantil realizada em escola pública, fez a graduação em Engenharia de Computação e o mestrado com bolsa e o doutorado no DCC. “Minha chegada no DCC foi assim, alguém improvável querendo tornar-se possível, isto é, uma menina do interior do Paraná, com toda a vida estudantil vivida em escola pública ou com bolsa, uma engenheira com experiência em projetos com empresas e já professora. Meu primeiro desafio para fazer o doutorado foi a mudança e adaptação tanto a Belo Horizonte quanto ao DCC. Depois, lembro que durante um processo de escolha para representante dos alunos no Colegiado da Pós-graduação, um colega disse que quem não havia feito a graduação ou o mestrado no DCC não poderia se candidatar, por falta de experiência. Havia um certo preconceito com os alunos de fora e com as meninas. Não só me candidatei como venci e inspirei outros a seguirem tornando-se possíveis. Foi uma das experiências mais incríveis que tive dentro do DCC. Junto ao Colegiado do Programa, que era coordenado pelo professor Henrique Pacca Loureiro Luna, tive lições valiosas sobre a governança de um programa de pós-graduação e sobre as fundações e agências de fomento, tais como FAPEMIG, CNPq e CAPES. Também aprendi com a dedicação das meninas da secretaria e todos das áreas técnicas. Em especial tenho muito a agradecer à Lizete Barreto Paula, a Renata Viana Moraes, a Antônia Maria da Rocha, a Sônia Lúcia Borges Vaz de Melo, a Maria Aparecida Scaldaferri Lages (Cida), ao Rosencler Aparecido de Oliveira, ao Murilo Silva Monteiro, a Emília Soares da Silva e a Gilmara Viviane Silva Stolé fizeram toda a diferença. Sou muito grata a todos do DCC, funcionários, professores e colegas. Alguns dos bolsistas de iniciação científica que trabalharam comigo no Manna/SIS/ATM são professores do DCC hoje. Este é o caso do Flip (Luiz Filipe Menezes Vieira), Flop (Marcos Augusto Menezes Vieira), DaMacedo (Daniel Fernandes Macedo), LeoB (Leonardo Barbosa), Michele Nogueira Lima e Olga Nikolaevna Goussevskaia. Outros bolsistas do Projeto SensorNet foram meus alunos de mestrado, como Helen Peters, Julio Mello, Jeferson dos Anjos, Carlos Lopes e de doutorado o Fabricio Silva, dentre outros. Foi uma jornada épica, de muitos desafios e oportunidades em um ambiente de excelente nível.” contou emocionada.
Durante o tempo de aquisição de créditos, a ex-doutoranda afirmou ter conhecido professores extraordinários na forma de lidar com os alunos, como Newton José Vieira, Antonio Otavio Fernandes e Claudionor José Nunes Coelho Júnior,, e ter vivido um momento ímpar ao conseguir ser aprovada na disciplina de Projeto e Análise de Algoritmos, que não fazia parte da grade de formação. “A partir desse momento, decidi que independente do tema da tese, o nome seria Manna, que no dicionário significa coisa vantajosa e excelente. Já na Bíblia é descrita como o alimento fornecido por Deus aos seus filhos durante o tempo em que estavam no deserto” relatou. Ela também manteve um grupo de oração, onde reunia os colegas de graduação e pós, para que todos pudessem se sentir apoiados e acolhidos, o que auxiliou muitos colegas a encontrarem seus temas de pesquisa. Como egressa do DCC, Linnyer foi responsável pela criação de dois novos cursos, o de mestrado em Ciência da Computação da Universidade Estadual de Londrina, em 2007, e o curso de doutorado em Ciência da Computação da Universidade Estadual de Maringá, em 2020. Além disso, coordenou o Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação da Universidade Estadual de Maringá, de 2018 a 2020.
No período em que esteve no DCC, a ex-aluna também esteve à frente de projetos sociais, que desenvolveu junto aos alunos da graduação e pós-graduação, para auxiliar pessoas vulneráveis nas comunidades de Belo Horizonte e do Vale do Jequitinhonha. “Esse foi o início das ações de extensão do Manna e teve tanto o apoio do professor José Marcos quanto de todos da secretaria e da área técnica do DCC. Vivi grandes emoções inesquecíveis dentro do Departamento, fiz grandes amigos e conheci pessoas autênticas e admiráveis. O DCC contribuiu para a formação do meu perfil de liderança, de governança e o meu arrojo profissional”, afirmou Além disso, Linnyer orientou alunos no mestrado e doutorado no DCC, sendo a primeira orientanda a ex-aluna da graduação do Departamento Thais Regina M. Braga Silva, que hoje é professora na Universidade Federal de Viçosa. Antes de retornar ao Paraná, também foi professora efetiva da UFMG, na Escola de Engenharia. Até hoje desenvolve projetos em parceria com o professor Antônio Loureiro, com quem co-orienta alunos.
Linnyer, é bolsista de produtividade em pesquisa nível 1 do CNPq e alcançou o sucesso em cargos de extrema relevância, mesmo em um ambiente normalmente comandado por homens. É a primeira mulher a ser presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro), coordenadora do Comitê Assessor de Microeletrônica (CA-ME) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e membro do Conselho da área de Tecnologia da Informação (CATI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Além disso, desde 2009, Linnyer é membro do Comitê Gestor do INCT NAMITEC, um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dedicado à Microeletrônica e a responsável pelas atividades de popularização da ciência. Ela foi uma das responsáveis por inserir uma regra especial para mães no julgamento de Editais do CNPq, bem como nos Editais da UEM. Agora trabalha para que essa regra seja acatada também pela CAPES na avaliação quadrienal. Por essas e outras ações, em 2013, recebeu uma láurea do IEEE Women in Engineering e, em 2018, foi homenageada pela Universidade Estadual de Maringá, por seu notório saber acadêmico, reconhecida competência e por suas iniciativas, além de ter sido indicada duas vezes ao Prêmio Nacional Carolina Bori e duas vezes ao Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia.
A ex-aluna é fundadora e líder de um Ecossistema de Pesquisa, Ensino, Extensão e Inovação, o Manna. Nascido no DCC há 22 anos, o projeto trabalha com internet das coisas, internet robótica das coisas, internet dos drones, computação urbana, interface cérebro/computador, ciência de dados e educação 5.0. “O Ecossistema Manna tem um orçamento de três milhões para os próximos anos, sendo pouco mais de dois milhões vindos da Fundação Araucária, aproximadamente 600 mil em bolsas e projetos vindos do Governo Federal e 400 mil de outras fontes para os próximos anos. Contamos com 65 bolsistas de 11 câmpus universitários e diversas escolas públicas. Aproximamos universidades e escolas em 28 cidades do Paraná (Cianorte, Maringá, Jandaia do Sul, Campo Mourão, Paranavaí, etc), de São Paulo (Presidente Epitácio), de Minas Gerais (Florestal) e em Brasília – DF. Temos quatro empresas parceiras e impactamos mais de 40 mil pessoas nestes anos. É a maior rede de ensino, pesquisa, extensão e inovação do Paraná e uma das maiores do país”, contou a ex-aluna.
Segundo Linnyer, o professor José Marcos foi um grande orientador e amigo enquanto esteve no DCC, permanecendo um amigo especial até os dias de hoje. Também contou que o professor Antônio Loureiro foi e ainda é um dos responsáveis pela sua carreira profissional, por sua formação como líder e é muito amigo da família. “São amigos muito queridos e que tenho muito carinho. Tive uma oportunidade ímpar, vivi uma história intensa e desejo que o DCC continue firme no incentivo da inclusão de mais mulheres na computação e no desenvolvimento da inteligência social de seus alunos”, finalizou.
Para o professor José Marcos foi um orgulho orientar a ex-aluna e tê-la como amiga até os dias de hoje. “Ser professor é maravilhoso, muitas vezes “caem pessoas do céu” para orientarmos, que estabelecemos um relacionamento forte e de amizade que dura pra sempre. Esse é o caso da Linnyer. Ela chegou para fazer o doutorado conosco e por ser de outra área teve que se dedicar muito, mas venceu todos os desafios. Ela contava que seu quarto era cheio de post its para lembrar de tudo. Seguiu uma linha de pesquisa muito interessante, na área de sensores sem fio, e agregou muitas pessoas em sua volta. É uma líder. Conversar com a Linnyer é ótimo, ficávamos horas conversando. Lembro-me de quando estava grávida e iria viajar para a China, a companhia aérea deixou claro que se houvesse necessidade de mudar a rota ou pousar o avião devido à gravidez ela teria que custear essa diferença. Ela topou o desafio e não desistiu da viagem. Quando teve seu bebê, o levava, inclusive para as viagens internacionais. Linnyer é impressionante, faz diversas coisas ao mesmo tempo: representa diversas instituições, ocupa cargos de extrema relevância, auxilia muitas pessoas e já trouxe muito retorno ao país com as suas pesquisas e projetos, tenho muito orgulho dessa amiga”, concluiu emocionado.
A história da Linnyer também foi contada pelo Globo do Paraná