“A melhor coisa é ver um aluno que foi impactado por você”, afirma professor do DCC/UFMG

Daniel Fernandes Macedo é professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG) desde 2011, mas o vínculo com o Departamento iniciou bem antes, durante a graduação em Ciência da Computação, no ano 2000. “Cria’ do DCC/UFMG, deixou a Universidade somente para fazer o doutorado na França. Daniel também lecionou na Universidade Federal de Ouro Preto, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e trabalhou com desenvolvimento na Eteg Internet, ETEG. Enquanto terminava o 2º Grau, hoje Ensino Médio, queria cursar Física, até chegou a visitar laboratórios, mas após avaliar melhor o mercado, optou pela Ciência da Computação. Como muitos dos alunos que saem do 2º Grau para a faculdade, passou por diversas dificuldades e, para vencer o ritmo diferente e mais pesado, estudou durante o primeiro semestre inteiro todos os sábados e domingos. “Queria entender o que era demandado de mim e me adaptar. Achava muito interessante meus colegas veteranos, da graduação e do mestrado, que abriram empresas, inclusive fiz estágio em uma delas. conseguia ver que tudo que aprendia no curso iria levar para o futuro profissional e uma boa posição no mercado. Quando comecei a interagir com os professores, com o projeto de iniciação científica, vi onde os graduados estavam. Havia gente no exterior, muita gente em grandes empresas, diria que foi a minha grande inspiração”, contou.

Segundo Daniel, a época de estudos foi muito marcante e, até hoje, sente falta do espírito de corpo que havia. “Tínhamos um churrasco todo semestre, conhecíamos todos os alunos acima e abaixo do curso. São pessoas que encontro e acompanho o que estão fazendo na carreira e pessoalmente, foi um momento de muita união”, falou. Quando iniciou a graduação e no início do mestrado, Daniel não pensava em ser professor. Mas, no decorrer da pós, percebeu o interesse na prática da computação, em desenvolver ideias novas e avançar o conhecimento. “Isso é o papel do pesquisador e, no Brasil ele é um professor, assim, fui pra essa área. Me inspira muito o papel de pesquisador/professor, de sempre procurar coisas novas, de estar constantemente aprendendo e a fazer coisas diferentes. São poucas as pessoas no mundo que podem trabalhar com isso e, para mim, é fenomenal. Outra coisa que muito me inspira como professor é lidar com os alunos na sala de aula. A melhor coisa é ver um aluno que foi impactado por você ,que entendeu um conceito, que fica animado ou, até, ao final do semestre vem e fala: muito obrigado, gostei muito da sua aula. Isso me impacta. Fazer a diferença na vida de um aluno ou dois alunos, sei que na verdade tenho um impacto maior, que impacto mais alunos, mas muitas vezes não temos retorno. Esse retorno demora, só vemos quando o aluno está trabalhando e onde ele chega”, disse.

Como professor, Macedo é daqueles docentes que busca fazer trabalhos com os alunos e tornar as aulas mais participativas. “Tenho feito minhas disciplinas com foco em inovação e baseadas em projeto mais interativas. Gosto de ser um co-criador com os alunos. Tenho prazer em sentar com eles, pensar no projeto que podemos fazer, encontrar os interesses deles e ver aquela ideia gerar frutos. Acho que isso é a coisa mais legal do professor, quando acompanhamos a jornada do aluno. Por uma razão de logística, acabamos tendo turmas grandes e, em geral, temos um acompanhamento mais distante, mas para mim, o que me motiva é esse aspecto pessoal, a interação com os alunos, um a um, entender o que eles estão fazendo e como que eles evoluíram”, contou empolgado.

Daniel é da área de sistemas, e é um professor mais prático e de implementação. Desta forma, mexe muito com redes de computador, com novos dispositivos e com internet das coisas. Nessa área técnica, a prática acabou virando parte da execução no nível de negócio. “Hoje leciono disciplinas que desenvolvem projetos pensando em abrir uma empresa, pensando em ter uma tecnologia inovadora e que vai para o mercado. Assim,  diria que o que me define é ser mão na massa, é a prática. Sou muito objetivo e gosto de fazer e criar uma tecnologia, isso é muito legal. É muito diferente e empolgante a primeira vez que você desenvolve alguma coisa, aquilo que tem uma novidade intelectual. Mas, para mim, isso não basta, quero ver aonde isso irá melhorar a vida das pessoas. Isso é bem característico do DCC/UFMG, temos uma história muito grande na interação com as empresas e com o mercado, é bem característica nossa”, contou.

Macedo tem como inspirações em suas pesquisas o prazer no que trabalha, ou seja, rede de computadores, além da possibilidade de contribuir para um mundo melhor. “A ideia de fazer uma pesquisa que vai ser utilizada de alguma forma, para mim é uma inspiração. Não gosto de um trabalho que pode ser muito interessante, mas não vejo muito qual a aplicabilidade. Gosto de coisas mais objetivas, de ver a evolução dos meus alunos. Aqueles que trabalham comigo, da graduação e pós-graduação, principalmente aqueles que têm bolsa, tenho uma relação próxima. Às vezes saímos para almoçar, fazemos churrascos do nosso Laboratório, acaba sendo uma relação de amizade e de aconselhamento. Ver a evolução da pessoa como profissional, a evolução do conhecimento, esse é um dos meus objetivos, impactar as pessoas e que as minhas pesquisas também tenham impacto no dia a dia da sociedade. Há dois impactos, o aspecto do ensino da inovação e a pesquisa, mais voltada à rede de computadores. Gosto muito de utilizar a inteligência artificial nas redes, que hoje é uma tendência em todas as tecnologias devido ao alto custo de operação em qualquer coisa. Por exemplo, em uma fábrica existe o custo da aquisição dos equipamentos, mas também do pessoal. O recurso humano é caro, já que as pessoas têm que ter muito conhecimento técnico para operar o maquinário. A mesma coisa ocorre em Tecnologia da Informação, desta forma, manter um software em geral tem que conhecer muita coisa, já que os softwares estão ficando cada vez mais complexos. Quando falamos de rede de computador e de provedores é a mesma coisa. O trabalho com a inteligência artificial para automatizar e resolver os problemas complexos demoram a ser compreendidos e resolvidos por uma pessoa. Fazer isto de forma automática ou oferecer sugestões do que poderia ser feito é chave para reduzir os custos das empresas, o que também reduz para o consumidor”, explicou.

Segundo Daniel, a inteligência artificial e a inovação tecnológica não diminui somente os custos das empresas mas, também, trazem mais tranquilidade, confiança e precisão nos serviços prestados à sociedade. Segundo ele, isso é construído pelos pesquisadores da Ciência da Computação. “A inteligência artificial melhora o trabalho, o que é muito importante. Se pararmos para pensar, quando acontece uma falha no fornecimento de energia elétrica, por exemplo, normalmente são situações atípicas, a luz pode cair a noite, quando tem uma tempestade, sendo o momento em que mais precisamos. Para solucionar o problema, em geral, quem resolve é um profissional que está trabalhando em situação de estresse. É aí que existe grande risco de ocorrer uma decisão equivocada. Quando falamos de uma decisão automática, não tem isso. Esse é o meu objetivo nas pesquisas, tentar fazer com que as redes e os dispositivos sejam autopilotáveis, para que façamos coisas mais interessantes para o ser humano. Por exemplo, criar. O ser humano não deve ser uma coisa, não tem que ficar tomando conta da máquina. A máquina deveria tomar conta de si e, as pessoas, fazerem as tarefas criativas, de novos produtos, artísticas ou, por exemplo, exercem profissões mais afetivas, cuidando das pessoas, esse é o objetivo”, falou.

Casado, Daniel tem um filho de 2 anos. Segundo ele, o filho anda sendo uma das grandes tarefas atuais e que o ensina muita coisa todos os dias. “Meu filho me ensinou novamente a priorizar. Ele me mostrou que a vida é como um videogame, que pulamos de nível. Do segundo grau para a graduação eu pulei de nível, tive que aprender a ser mais eficaz e, depois, tive um grande salto, um salto pesado quando fui contratado no DCC/UFMG. Me lembro até hoje quando tive uma reunião com o professor Wagner Meira Júnior, a velocidade em que ele pensava eu não conseguia nem acompanhar. Não imaginava de onde ele estava tendo tantas conclusões, o que ele estava querendo passar pra mim. Hoje já consigo acompanhar o raciocínio dele. Atualmente tenho que ser ainda mais eficaz, já que chegando em casa tenho um filho pra cuidar, assim, priorizo meu filho e minha família em casa. Essa é a questão, objetividade do que é importante no lazer, o que é importante no trabalho, o que queremos e o que não queremos”, afirmou.

Colega de trabalho do Daniel, o professor Heitor Soares Ramos Filho o conheceu  por meio de um amigo comum. “O Daniel fez mestrado no DCC/UFMG com um amigo em comum e eu fiz doutorado enquanto ele estava no doutorado na França. Antes de conhecê-lo melhor, sempre tive excelentes referências sobre ele. Daniel é uma pessoa extremamente gentil e de muito bom trato. Tem um jeito calmo, educado e respeitoso de conversar e se expressar. Voltei para Minas Gerais em 2019, quando comecei a ter mais contato com o Daniel por conta do trabalho. No início de 2020 fomos convidados para compor a equipe da Embrapii do DCC. Esse foi o momento em que interagimos com mais frequência. Encontrei no Daniel um grande parceiro de trabalho, ele é muito responsável e generoso com todos que interage. Sempre encontrei muita facilidade em trabalhar com o Daniel, pois mantemos uma relação de muito respeito e admiração. Ele tem uma excelente formação e trabalha em uma área de pesquisa muito próxima da minha, trabalhar mais próximo ao Daniel tem sido uma grande satisfação. Interagir com o Damacedo, como é conhecido pelos colegas, é sempre uma excelente fonte de aprendizado”, disse entusiasmado.

Também colega de trabalho do Daniel, o professor Fabrício Benevenuto de Souza considera Macedo mais que um colega, mas um amigo. Os dois professores estudaram juntos desde a graduação no DCC/UFMG e seguiram o mesmo caminho na profissão, inclusive, trabalharam juntos na UFOP. “Daniel é um grande amigo e devo muito a ele, fui lecionar na UFOP graças a ele. Acompanho a sua carreira desde a graduação, sempre me espelhando em sua trajetória para guiar a minha. Nossas conversas sempre me ajudaram muito, Daniel é uma pessoa das mais inteligentes que conheço, o admiro muito. Sou muito feliz e grato por tê-lo como colega e amigo”, falou agradecido. 

No bate-papo com a comunicação do DCC/UFMG, Daniel contou mais e respondeu outras perguntas, contou sobre os desafios para desenvolver as pesquisas, falou sobre os alunos e sobre o DCC/UFMG, veja abaixo:

Quais os desafios enfrenta no dia a dia para realizar as pesquisas?

Eu diria que no Brasil sempre há um desafio muito grande, principalmente a questão financeira, o que causa a falta de previsibilidade. É diferente de outros países, onde têm planejamento para os próximos dez anos, apontando as prioridades do país ou, por exemplo, da Europa como um todo. Há como saber o que vai ser interessante trabalhar e ainda há um orçamento associado. Desta forma, existe previsibilidade, o que é muito importante em pesquisa, já que trabalhamos com projetos de longa duração. A ciência não se faz do dia para a noite, demanda tempo, estudo e muita dedicação para se descobrir o novo. Quando há uma situação mais caótica, como é o caso do Brasil, você olha somente o dia de amanhã, o que limita as pesquisas e resultados para o bem de todos. Esse é o maior desafio tradicional, mas também há a questão da remuneração dos estudantes. Esse está sendo o “matadouro” principal da pesquisa atualmente. O mercado tem vários trabalhos muito interessantes e, para fomentar as pesquisas, precisamos ter bolsas atrativas para que a pessoa consiga sobreviver. Os valores das bolsas de hoje não dão para se manter, pagar custos de alimentação, moradia, outros gastos pessoais e familiares para se dedicar à pesquisa, é quase que viver uma vida de “monge”. Isso limita muito as escolhas das pessoas. 

O que não pode faltar em um pesquisador?

Empenho e vontade, não importa onde o pesquisador esteja no mundo, ele trabalha o tempo todo, trabalha final de semana e diuturnamente. É uma profissão de impacto mundial, com competição mundial. Somos comparados o tempo todo com o mundo inteiro e somos cobrados por produtividade. Não adianta trabalhar a semana inteira se você não é produtivo, tem que saber o que está fazendo, o que contribui efetivamente para ter bons resultados.

O que acha dos alunos do DCC/UFMG?

Vejo os alunos do DCC como estudantes muito bons. Recebem uma boa formação e são dedicados. Como todo aluno e como qualquer pessoa têm que ser levados a um caminho. Temos que nos adequar às expectativas, já que são profissionais em formação. Então, efetivamente, como qualquer profissional em formação espera-se que tenham uma curva de aprendizado. Em geral, é bem interessante ver como os nossos alunos são bem cobiçados externamente. São cobiçados por empresas e por universidades do exterior. A formação acadêmica do brasileiro em geral é muito boa e respeitada mundialmente, e a formação da Ciência da Computação no DCC/UFMG é diferenciada. Estamos falando de pessoas que quando terminam o curso têm uma formação excelente.

Em sua opinião, o que não pode faltar em um aluno do DCC?

Empenho, dedicação, iniciativa e vontade de trabalhar. Uma coisa muito importante é que o resultado final do seu curso no DCC/UFMG, ou em qualquer outra universidade, depende muito do que espera e do quanto quer dedicar. Olhando os nossos ex-alunos, temos desde milionários, que têm grandes empresas e venderam empresas para as maiores do mundo, como também pessoas que têm uma dificuldade, que estão pulando de emprego para emprego ou que largaram a área para poder fazer alguma outra coisa, pois não estão dando certo. Acho que é muito individual, depende de como a pessoa encara o curso e qual a dedicação e o aspecto da iniciativa própria. Uma pessoa que tem iniciativa não espera as oportunidades, ela gera as oportunidades pra ela.

O que representa o DCC/UFMG em sua vida estudantil e agora como profissional?

Eu diria que minha vida estudantil foi bem interessante e me colocou em um caminho mais independente. Como todo aluno, no segundo grau, não sabia muito bem o que queria da vida e como me portar. Acho que o DCC me ajudou muito nisso, nesse espírito do “se vira”. Me lembro de uma coisa que aconteceu em um dos primeiros dias da graduação, em que chegamos na aula de programação e o professor falou: o livro texto é em inglês, aí um aluno disse que havia feito o vestibular em espanhol. Então o professor falou: você tem uma semana para aprender inglês. Esse perfil é importante. Hoje temos visto cada vez mais que as tecnologias mudam muito rápido e o perfil do mercado de trabalho também. Você tem que ter essa iniciativa, tem que ter a perspicácia para poder identificar o que é o mais importante e não ficar para trás. Já em minha vida profissional, o DCC/UFMG foi muito motivador. Olho meus colegas e todos se destacam de alguma forma. São incríveis e aqueles que têm relacionamento com os alunos são adorados. Vejo professores sendo homenageados em todos os lugares. Aparecem no Senado e na Câmara para falar sobre novas tecnologias e o que acham dos rumos do Brasil na área. Vejo meus colegas em um protagonismo muito grande no Brasil e no mundo, o que nos coloca em um espírito de ser, no mínimo, similar ao que eles fazem, em busca da excelência e do conhecimento. Isso é uma coisa que marca. Espero que a geração do conhecimento novo seja ainda mais relevante para a sociedade, que formem pessoas e cientistas melhores dos que estamos formando hoje.

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