Graduado em Engenharia Elétrica pela UFMG, com mestrado em Ciência da Computação pela mesma universidade e doutorado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o professor Newton José Vieira esteve no DCC desde a sua criação até 2016, quando se aposentou. Nestes mais de 40 anos dedicados à docência, foi homenageado diversas vezes por seus alunos, lecionando muitas disciplinas, como Programação de Computadores, Panorama de linguagens de Programação, Sistemas de Computação, Sistemas Operacionais, dentre outras. Nos últimos anos em que estava na ativa, após o doutorado na área de Inteligência Artificial, lecionou Inteligência Artificial, Matemática Discreta e Fundamentos da Teoria da Computação, na graduação, e Teoria de Linguagens e Demonstração de Teoremas, na pós-graduação.
Newton iniciou a paixão pela sala de aula após fazer um estágio na Divisão de Tecnologia do Centro de Computação – CECOM, instalado no prédio da Reitoria da UFMG, entre 1971 e 1974, onde as atividades em Computação tiveram início no final da década de 60. Entrou na UFMG em 1975, no CECOM, como analista, e depois se tornou professor colaborador. O amor pela docência só aumentou ao cursar o mestrado, terminado em 1978. “Essas experiências despertaram em mim a vontade de fazer pesquisa e ensino de alto nível em Ciência da Computação. Durante o estágio, do segundo ao quinto ano do curso de graduação, me apaixonei pela computação, decidi que queria seguir a carreira de professor/pesquisador na área e não atuaria como engenheiro eletricista”, contou.
Como professor, segundo Vieira, quem mais o incentivou e inspirou foi o professor Wilson de Padua Paula Filho e seus colaboradores, ainda na época do CECOM, durante a construção do DCC. “Me entusiasmei pelo planejamento do professor Wilson em construir um Departamento de primeiríssima linha por meio da qualificação continuada do corpo docente. Considero incrível que tal planejamento foi efetivamente seguido e resultou em um local de altíssimo nível em um tempo relativamente curto. Me marcou muito, em todo o tempo em que permaneci no DCC, o dinamismo do corpo docente, sempre procurando atuar na fronteira do conhecimento e seguindo as melhores práticas vigentes no mundo”, ressaltou.
Professor exigente e que buscava extrair o melhor dos alunos, independente da dificuldade das matérias, Newton tem uma prateleira em casa com as homenagens recebidas pelos discentes. “Nas avaliações ao final de semestre sempre fui muitíssimo bem avaliado, mesmo quando a matéria que lecionava era considerada difícil. Os alunos costumavam atribuir um eventual mal desempenho às dificuldades do assunto e não ao rigor excessivo nas avaliações que aplicava. Era muito comum eu receber elogios, tanto na graduação quanto na pós, o que era altamente recompensador”, lembra emocionado.
Newton sempre teve atração pela vida acadêmica e acreditava que atuar na fronteira do conhecimento e buscar soluções inéditas era muito mais atrativo e recompensador, já que não tinha como prioridade ganhar dinheiro. Como pesquisador, tinha modelos inalcançáveis, como: Donald Knuth e Edsger Dijkstra. Além disso, seu maior objetivo como cientista era prover os sistemas computacionais com a capacidade de processar conhecimento, tendo como base o uso de lógica matemática. “Minha atuação sempre foi focada em sistemas de natureza mais teórica do que prática, daí não havia impacto imediato no dia a dia. Ao mesmo tempo, por este fato, minha maior dificuldade era atrair alunos com interesse na área em que atuava”, disse.
Para o ex-professor o que não pode faltar em um pesquisador é a produção de ideias (perguntas), juntamente com a capacidade de atrair colaboradores (alunos e colegas). Apesar de não ter tido muitos orientados, foi privilegiado por orientar vários alunos que se tornaram professores e importantes funcionários de empresas. “Aquele que deseja ingressar na pesquisa ou no mercado de trabalho, o mais importante, além de muita motivação e entusiasmo para estudos e trabalhos avançados, é uma dedicação efetiva e também uma preocupação constante com o aprimoramento da arte de se comunicar e escrever, enfatizando precisão, clareza e elegância”, destacou.
As áreas de estudos se completam e trazem ganhos para todos, prova disso é o aumento cada vez maior da interação entre a computação e a medicina. Já na época em que fazia o doutorado na PUC-RJ, durante as investigações de um projeto relacionado a sistemas baseado em conhecimento, Newton viveu um caso curioso. Enquanto analisava um conjunto de regras usadas por médicos para diagnóstico de tuberculose, descobriu que, pelas regras utilizadas, estaria com tuberculose. “Alguns dias depois, uma médica, minha cunhada, confirmou que era provável que estivesse doente. Fui parar no Hospital Miguel Couto e constatei que realmente estava com tuberculose. Fiz o tratamento protocolar e, como já disse o Zagallo, muita gente ainda teria que me aguentar”, contou rindo.
No que diz respeito ao DCC, Newton é só sorrisos e lembranças de um crescimento conjunto. “Cresci junto com o DCC e o vi se tornar um Departamento de excelência, exemplo a ser seguido. Tenho muito orgulho de ter participado de sua construção e consolidação. É um dos melhores Departamentos de computação do país, com um time de pesquisadores altamente qualificados e formados em uma ampla gama de instituições de excelência espalhadas em todo o mundo”. Por tudo isso, o ex-professor ressalta as saudades do tempo em que lecionava. “Nunca pensei que iria dizer isso: tenho saudades de dar aulas. Eu realmente gostava de lecionar! No fundo, meu comportamento era o de uma criança assistindo a uma aula e imaginando: se eu estivesse dando esta aula, faria da seguinte forma…”, conta emocionado.
Relembrando o tempo em que estava no DCC, Newton disse que poderia ter alavancado ainda mais a carreira se tivesse feito um pós-doutorado no exterior. “Um pouco depois de concluir o doutorado eu iria fazer um pós-doutorado na Columbia University, ao mesmo tempo em que minha esposa faria na Cornell University. Mas, depois de tudo acertado, o professor que seria meu supervisor saiu da Columbia para trabalhar na iniciativa privada. Depois não tive (ou não criei) mais oportunidade”, falou.
Após a aposentadoria, Vieira passou a se dedicar à leitura e à escrita e já produziu muita coisa. “Gosto muito de ler e escrever. Não sei se algum dia vou publicar o que tenho escrito. Na verdade, escrevo por necessidade mesmo, tenho que colocar pra fora algumas coisas. Após a cirurgia que fiz há cinco anos atrás, devido a um câncer de intestino, tenho a mobilidade limitada, mas acredito que o professor não saiu de dentro de mim, já que não consigo deixar de escrever, mesmo que apenas para consumo próprio”, disse.
Para os professores de hoje, o professor aposentado do DCC ressaltou que a colaboração com os outros pesquisadores, da UFMG ou de outras universidades, é fundamental e, com certeza, aumenta a produtividade de todos. “Não se descuidem de duas coisas importantes: a colaboração com colegas da UFMG e de outras universidades, além de atuarem em outras universidades em estágios de pós-doutorado ou como professor visitante, isso faz toda a diferença”, concluiu.
Dentre os vários colegas e amigos que o professor Newton fez durante as décadas em que esteve no DCC, o professor José Marcos Nogueira foi um dos que estiveram junto com ele desde o início, já que estagiaram na mesma época no CECOM, trabalharam em diversos projetos e seguiram a carreira de professor no Departamento. Segundo o José Marcos, Newton sempre foi um exemplo de professor, daqueles que devem ser seguidos, escrevia livros e era muito dedicado aos seus alunos, sempre na área teórica. “Ficamos sempre em salas próximas e o Newton é um exemplo de integridade, discrição, tranquilidade e excelência como professor e como pessoa. Alguns de nós o chamávamos de Dema, devido ao nome de um professor homônimo que tivemos na Engenharia. É um amigo que atualmente vejo pouco, mas sinto muito falta e tenho muito carinho e saudades”, disse emocionado.