Ex-aluna da graduação e do mestrado do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, Lívia Almeida Barbosa hoje trabalha como Backend Engineer, na Remote, uma empresa que provê a contratação global de pessoas como trabalhadoras locais do país onde vivem, sendo uma startup que se tornou unicórnio no ano passado. Durante a graduação, entre julho de 2015 e julho de 2016, foi bolsista de Iniciação Científica (IC) no Laboratório WINet, onde trabalhou no projeto MoReLiT (Monitoramento Remoto de Linhas de Transmissão), coordenado pelos professores José Marcos Silva Nogueira e Daniel Fernandes Macedo. “O professor Daniel enviou um e-mail para a lista de alunos procurando alguém que tivesse conhecimento em eletrônica. Na hora quis saber mais sobre a oportunidade, já que tinha me formado em Técnica em Eletrônica, pelo CEFET/MG. Durante o período em que estive no Laboratório, mantive contato com outros estudantes da graduação e da pós, e foi muito bom conhecer gente nova e ter esse contato mais próximo com a pesquisa. Um pouco antes do prazo final da IC, o professor José Marcos conversou comigo sobre os meus interesses e, como havia mencionado que queria uma experiência com desenvolvimento de web, me proporcionou essa nova “função”, de ajudar na manutenção do site do projeto. Tenho a certeza de que esse período me ajudou bastante a conseguir o meu primeiro estágio da área”, afirmou a ex-aluna.
Enquanto estudante, Lívia se considerava fora do estereótipo daqueles que estudam computação mas, segundo ela, nunca sentiu que estivesse no lugar errado. “Eu fujo um pouco (risos) do estereótipo de pessoas da computação: mulher, negra, não gosto de café, não costumo jogar videogames e gosto de programar com o fundo branco (apesar dos meus olhos me agradecerem por usar o fundo preto). Quando entrei na graduação nunca tinha visto alguns filmes “clássicos” de “nerds”. Eu era a única pessoa do meu grupo de amigos a participar de um time de vôlei no ICEx (joguei vôlei durante a graduação quase toda, inclusive fui capitã por um ano e meio mais ou menos). Apesar de todas essas quebras de expectativas, nunca me senti “no lugar errado”, pois os amigos que fiz sempre estiveram por perto para me apoiar nas situações boas e nas ruins também”, disse. Segundo a ex-estudante, no DCC fez amigos e conheceu pessoas que irá lembrar para sempre e sabe que pode recorrer quando precisar. “Conheci meus amigos mais próximos nos primeiros semestres do curso, ao formar um grupo de apoio para estudos, e mantemos contato diário até hoje, pelo Telegram. Profissionalmente, o Departamento foi o ponto de partida e, também, uma ponte para tudo que pude alcançar. O DCC/UFMG nos prepara para diferentes contextos, para sermos profissionais versáteis e que geram impacto onde estiverem”, relatou agradecida.
Como a maioria dos calouros, logo que chegou ao DCC/UFMG Lívia encontrou dificuldades em encontrar as salas de aula e, também não fugindo de acontecimentos corriqueiros entre os alunos, passou aperto para apresentar adequadamente um trabalho. “Acho que como muitos, fiquei perdida no prédio do ICEx nos primeiros dias de aula, passando três vezes pelo mesmo corredor antes de encontrar a sala de aula certa. Outro coisa que não fugi dos clássicos, foi na apresentação de um dos trabalhos da disciplina Organização de Computadores 2. Lembro que era um trabalho em grupo e nossa implementação funcionava tanto no simulador em software quanto na placa FPGA. Porém, no dia da apresentação, a placa resolveu não funcionar. Nossa sorte foi que, uns dias antes, gravamos um vídeo do funcionamento da placa e conseguimos explicar para o monitor tudo o que foi feito no trabalho”, relembrou. Outro desafio, segundo a ex-discente, é descobrir o próprio limite e quantas matérias cada um consegue fazer em um semestre. “É importante saber o seu limite e respeitá-lo, para ter uma relação saudável consigo e com o curso, especialmente se tiver de conciliar com outras atividades (estágio, trabalho, participação em projetos de extensão, atividades extra-curriculares, etc). Assim como vários outros alunos, também fiz outras atividades durante a graduação e o mestrado, então sempre dou esse conselho para as pessoas que conheço, porque temos que cuidar para que as atividades não se tornem extremamente cansativas e prejudiquem o seu desempenho”, aconselhou.
Ao final da graduação, Lívia foi orientada pelo professor Mário Sérgio Alvim e, segundo a ex-estudante, não se conheciam. “Confesso que o procurei porque tive boas indicações de seus orientandos, pois não sabia muito sobre suas áreas de pesquisa. Mas foi uma ótima surpresa, pois contei da minha vontade de fazer algo mais prático no trabalho final e ele conseguiu encontrar uma interseção com um tópico do livro que estava trabalhando naquele momento. Fiz a disciplina dele no semestre do TCC, Teoria da Informação, e as aulas eram maravilhosas”, contou empolgada. Já no mestrado, a ex-aluna foi orientada pelo professor André Cavalcante Hora, com quem também não teve a oportunidade de ter aulas durante a graduação. “Acho que o André entrou no Departamento quando eu estava me formando na graduação e não tive oportunidade de fazer nenhuma disciplina com ele. Foi outra ótima surpresa. O André é muito compreensivo, colaborativo e sensato. Como fiz o mestrado com dedicação parcial, já que trabalhava, foi muito importante ter um orientador que entendesse esse ritmo. Uma das primeiras coisas que André me falou foi: “Eu sei que alunos de dedicação parcial não têm a mesma velocidade de entrega. Se você precisar adiar uma reunião porque está apertada no trabalho, ou com alguma disciplina, é só avisar”. Isso me tranquilizou tanto! Além disso, participei de discussões muito enriquecedoras, tanto sobre o meu projeto de pesquisa quanto nos seminários do Grupo de Pesquisa em Engenharia de Software Aplicada (ASERG), que faz parte do Laboratório de Engenharia de Software (LabSoft)”, falou.
Lívia ainda não pensa em fazer o doutorado e quer descansar dos estudos um pouco, mas é uma incentivadora daqueles que desejam entrar no DCC/UFMG, tanto para a graduação quanto para a pós, ou os que já estão. “Se você deseja entrar no DCC, boa sorte e não desista, é muito recompensador! Aproveite todas as oportunidades que o Departamento e a Universidade tiverem a oferecer e fizerem sentido para sua carreira. O tempo em que estive no DCC me marcou muito, os amigos que fiz, as várias oportunidades que tive e o apoio que tanto os funcionários quanto os alunos estão dispostos a oferecer. Não penso em fazer doutorado agora ou em um futuro próximo, quero descansar um pouco do mestrado, mas quem sabe daqui a alguns anos! O Departamento foi fundamental para minha formação, aprendi a ser mais questionadora, a lidar com situações adversas. Ter um dos melhores Departamentos de Computação do país no currículo também ajuda muito a abrir portas para muitas oportunidades, em diferentes áreas de atuação. Para mim, o DCC é sinônimo de excelência, inovação e oportunidades. Espero que, cada vez mais, grupos sub-representados consigam se ver e estar nesses espaços, para que todos sejam beneficiados e impulsionados em suas carreiras”, concluiu.
Segundo o professor André Hora, Lívia foi uma excelente aluna de mestrado, sempre muito entusiasmada com a pesquisa sobre migração de framework de teste. “Como reflexo da sua dedicação, Lívia publicou um artigo na renomada Conferência IEEE International Conference on Software Analysis, Evolution and Reengineering – SANER (pena que a apresentação foi on-line, devido à pandemia, e ela não pode conhecer o Havaí dessa vez). Tenho certeza que a Lívia continuará alcançando grande sucesso na sua carreira”, falou orgulhoso.
Já o professor Mário Sérgio contou que Lívia foi bem independente, com uma ideia clara do que queria fazer e de como poderia conectar o aprendizado de sua graduação com um problema prático que a interessava. “Foi gratificante trabalhar com ela e ver os bons resultados de seu projeto”, disse feliz.
De acordo com o professor José Marcos, a Lívia era uma estudante muito dedicada, uma pessoa amável e de conversa agradável. “Me lembro muito bem da Lívia quando participou do projeto de P&D para o desenvolvimento de um monitoramento de linhas de transmissão de energia elétrica para a CEMIG, chamado de Morelit. A Lívia teve participação muito ativa no projeto; ela tinha uma base de eletrônica adquirida no CEFET, o que ajudou bastante, visto que a parte de hardware era forte no projeto. Muito dedicada, amável e de conversa agradável, são pessoas assim, que quando trabalham com a gente, nos estimulam a gostar do que fazemos na profissão. Recentemente a vi pelos corredores do ICEx, sentada no chão e estudando no laptop (perto da tomada de energia). Aí disse-me que estava fazendo mestrado e trabalhando também, fiquei muito feliz”, contou o professor.
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