Graduado em 2008 no Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG), Luis Felipe Martins, após algum tempo parado na academia, mas bem agitado na área profissional, finalizou o mestrado em 2014, onde foi orientado pelo professor Dorgival Olavo Guedes Neto. Casado, tem dois filhos e é um empreendedor nato, sendo atualmente sócio-fundador de uma nova empresa, a Alpe Capital. Segundo Luis, uma das características do DCC, além da estrutura e excelentes professores, é a exigência no ensino para que o aluno seja capaz de buscar, pesquisar e desenvolver o raciocínio crítico. “Isto é algo extremamente valioso no mundo de hoje, onde temos informação ao alcance de uma pesquisa rápida, mas é necessário saber transformar esse dado em conhecimento. Por todos os lugares que passei ou profissionais que conversei, só a menção de que formei no Departamento já abria as portas e a resposta sempre foi: Ótimo, o pessoal que vem do DCC sabe se virar e entregar resultados“, contou.
A característica de ‘se virar nos 30’, junto com uma base forte de conhecimento, fez o Luis, em 2018, abraçar a ideia de trabalhar e desenvolver tecnologia para o mercado financeiro e ativos digitais (criptomoedas e blockchain). “Me uni a dois amigos da graduação, que também formaram e continuaram no Departamento – Laboratório de Software Livre – e fundamos uma startup na área. Começamos do zero e sem recursos. Participamos de um programa de aceleração da Confederação Nacional de Transportes (CNT) e do Bossa Nova, um dos maiores fundos de VC da América Latina, e fomos uma das cinco empresas selecionadas entre as mais de 300 participantes. Recebemos investimentos e uma estadia no Vale do Silício, na Califórnia. Voltamos, desenvolvemos a empresa e chegamos a ter 10 mil usuários, gerenciando o portfólio de ativos digitais dos clientes. Em abril de 2021, vendemos a nossa participação e montamos um novo negócio, na mesma área, gestão de ativos no mercado financeiro, dessa vez voltado para o público B2B, institucional e clientes privados e não o varejo”, relatou.
Luis construiu uma carreira dentro do DCC, iniciada em um estágio em 2006, no Centro de Recursos Computacionais/Ponto de Presença da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em Minas Gerais (CRC/POP-MG). Em 2008, foi convidado a fazer parte da equipe de profissionais do CRC, onde permaneceu por dez anos e saiu para empreender. “Posso dizer, sem dúvidas, que o DCC é a minha segunda família e onde tenho minhas melhores lembranças. Quantas saudades sinto das “meninas” da secretária, dos professores, do meu mestre e orientador professor Dorgival, dos meus colegas de trabalho que, na verdade, são meus grandes amigos até hoje e do meu coordenador do CRC/PoP-MG, um exemplo de líder, Murilo Silva Monteiro. Larguei um emprego sólido, com um salário bom, onde trabalhava com meus melhores amigos – eu não considerava ‘trabalho’ – para investir em uma ideia e um sonho do zero, sem tirar um real de salário. Minha esposa estava grávida do nosso primeiro filho. Loucuras… mas, deu certo”, comemorou.
O CRC provê todo o suporte aos usuários, desenvolve e mantém a infraestrutura e serviços do DCC. Já o POP-MG está espalhado pelo estado de Minas Gerais. O Centro é responsável por prover e manter acesso à internet em todas as universidades públicas de Minas. Assim, além das conexões de internet na UFMG, as das Universidades Federais de Ouro Preto, Lavras, Viçosa, dentre outras, passam pelo PoP-MG. “Eu tinha três papéis no DCC, o POP-MG, o CRC e o PTT-MG, que é o ponto de troca de tráfego de Minas Gerais e o coordenava na época”, descreveu.
No CRC, pouco tempo depois de chegar, Luis ficou conhecido como ‘Pi’, um apelido antigo e que todos achavam engraçado, mas que a origem nunca foi muito bem explicada. Muito interessado em participar e aprender coisas novas, foi, segundo Heitor, uma ótima pessoa com quem trabalhou. “Pi adora um desafio, descobrimos que era fácil colocá-lo pra fazer qualquer coisa difícil, bastava dizer: “duvido que você consiga fazer isso!”. Certa vez, o pessoal do trabalho combinou uma viagem para a Europa, como não daria para todos irem, alguém teria que ficar para trás, cuidando do CRC, e esse alguém foi o Pi. No meio da viagem, inventamos de pregar uma peça nele e fizemos uma ligação para o telefone de plantão que estava sob sua responsabilidade bem no horário em que estivesse indo para casa. Na ligação, fingimos que era um chefão dizendo que estava tudo sem funcionar. Como não tinha mais ninguém trabalhando, era ele quem teria que resolver. Só depois de uns 10 minutos é que ligamos, novamente, para avisar que era uma pegadinha ‘internacional’”, contou rindo.
Já para Alison, o convívio com o Luis foi enriquecedor em todos os âmbitos da vida. “Logo que o conheci nos tornamos amigos. Éramos jovens e antigamente ele adorava fazer atividades físicas ‘radicais’, acho que hoje já desistiu (risos). Essa amizade, que permanece até hoje, só tenho a agradecer. Ele é o parceiro, amigo e profissional que me ensina todos os dias, posso contar em todas as horas e isso não tem preço. Constantemente nos encontramos e nos divertimos com jogos de tabuleiro”, relatou.
Ao sair para empreender, Luis e os amigos/sócios Israel Guerra e Michel Boaventura, foram com a cara e a coragem, além de muita bagagem acadêmica e profissional, já que os dois últimos eram do Laboratório de Software Livre e também haviam cursado a graduação e o mestrado no DCC. “Saimos juntos para fundar a empresa, vendemos nossa participação e hoje estamos juntos em vários outros projetos ainda, em tudo na verdade. São meus amigos de vida, tanto o Israel quanto o Michel, além do Alison Carmo Arantes, o Euder Flávio Corrêa Rodrigues e o Heitor Motta Belisário de Moraes, que trabalharam comigo no CRC. O Heitor, um dos meus padrinhos de casamento, e o Alison, continuam no DCC. Já o Leandro Branco, outro grande amigo da graduação, por coincidência do destino, foi quem me apresentou a minha esposa e é primo dela. Por isso digo que o DCC representa tudo para mim: foi minha segunda família por dez anos, lá conheci os meus melhores amigos, sócios e até mesmo a minha esposa veio dos relacionamentos e amizades que construí no Departamento”, relatou emocionado.
Hoje Luis é conselheiro/board de algumas empresas/iniciativas e está começando um novo negócio do zero, com foco parecido com a primeira empresa, que terá o site lançado em janeiro de 2022. “Trabalhamos com gestão de ativos digitais com foco em tecnologia, afinal somos de ciência da computação, mas esta é voltada para um público mais privado e organizações. Estou começando do zero outra vez, faz quatro meses. Muito do que tenho devo ao DCC, amigos, sócios, família e o profissional que sou. Realmente sinto que é a minha segunda casa, mas uma hora precisamos deixar a casa também, por isso me arrisquei e saí para empreender. Sinto muita falta, pena que a pandemia fez todos ficarem remotos e perdi contato com várias pessoas que tenho muito carinho. Assim que voltarem ao presencial vou visitar a todos”, afirmou.
Luis considera que demorou a usufruir das potencialidades do DCC. “Demorei a ‘aproveitar’ o Departamento em sua plenitude, mas posso dizer que minha jornada foi longa e moldou, em parte, o profissional que sou hoje. Fui membro do Diretório Acadêmico por dois anos, participei dos campeonatos do Centro Esportivo Universitário (CEU/UFMG), calouradas, “computassando”, fiz estágio no CRC/PoP-MG, trabalhei lá após formado por dez anos e fiz o mestrado. Por isso mesmo eu diria para quem está no DCC ou irá entrar, aproveite tudo que o Departamento tem a oferecer, não se limite a apenas ir às aulas, fazer as provas e os trabalhos. Continue com “fome” de conhecimento, explore as oportunidades, estágios, faça iniciação científica, crie amizades – meus sócios nas empresas que tenho e tive são meus melhores amigos do DCC – e, acima de tudo, persiga seus sonhos e desejos”, concluiu agradecido.
Para o professor Dorgival, o ex-aluno fez um trabalho ímpar enquanto esteve no DCC. “Comecei a ter contato com o Luis quando estava no CRC/POP-MG. Quando decidiu fazer o mestrado, me procurou e conseguimos fazer um trabalho muito interessante, combinando um tópico de pesquisa popular na época: as Redes Definidas por Software e a operação prática do Ponto de Troca de Tráfego Internet (PTT, ou IX), que funcionava no PoP-MG. Esse trabalho rendeu frutos como artigos internacionais e cursos de treinamento para os membros da Rede Nacional de Pesquisa, desenvolvidos em conjunto com o Heitor, outro ex-aluno e funcionário do POP-MG”, contou.