Software combina imagens de satélites e Inteligência Artificial para identificar e indicar regiões de atividade de mineração não registradas ou monitoradas por agências federais e estaduais
A equipe de pesquisadores do Laboratório PATREO do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG), coordenada pelo professor Jefersson Alex dos Santos e financiada pela Organização Latino-Americana e do Caribe de Entidades Fiscalizadoras Superiores (OLACEFs), em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU), criou um software capaz de mapear e indicar coordenadas geográficas com alta probabilidade de serem áreas com atividade de mineração. A ferramenta, por meio de imagens de satélite, mapeia todas as regiões, sejam legais, ilegais, conhecidas ou desconhecidas pelas autoridades ou órgãos fiscalizadores. Para tanto, o software possui módulos baseados em redes neurais convolucionais que ensinam a máquina a identificar tais territórios, a partir de coordenadas geográficas e barragens ativas fornecidas publicamente pela Agência Nacional de Águas (ANA).
O estado de Minas Gerais foi atingido nos últimos anos com duas tragédias relacionadas às barragens. Este fato deixou marcas, medos e transtornos ainda não reparados. As tragédias em Mariana e Brumadinho, ocorridas em 2015 e 2019 respectivamente, deixaram mortos, feridos e desalojados até os dias de hoje. Mesmo após tais desastres, notícias de que barragens existentes no estado têm o risco de rompimento são divulgadas constantemente pelas mídias.
Além do risco à vida, os danos ambientais dos rompimentos das barragens são incalculáveis e podem demorar décadas para serem sanados, provocando, também a longo prazo, a morte de pessoas e enorme estrago à fauna, flora, rios e nascentes.
Nos dias de hoje, diversas barragens são conhecidas pelas autoridades, mas, a quantidade de desconhecidas e não catalogadas ou registradas de alguma forma, e que trazem riscos à natureza e à população que vive em seu entorno é grande. De acordo com indicação da ferramenta, há uma grande quantidade de coordenadas com alta probabilidade de serem atividades minerárias não mapeadas, o que vai de acordo com um relatório da Agência Nacional de Águas (ANA) de 2017, que apresentou diversas contradições no registro e acompanhamento de barragens de rejeito de minério entre as diferentes agências fiscalizadoras. “A ferramenta consegue reconhecer inúmeras coordenadas geográficas que correspondem a barragens, muitas delas pequenas, próximas a vilarejos ou em locais ermos, mas que podem eventualmente trazer danos às pessoas que vivem em seu entorno e ao meio ambiente”, esclarece o professor.
De acordo com Jefersson, as etapas da pesquisa, a criação e toda a funcionalidade do software, estabelecidas em parceria com o TCU, já foram concluídas e entregues. “O sistema consegue indicar áreas com alta probabilidade de serem atividades de mineração (incluindo barragens e garimpos), uma vez que os modelos foram treinados com dados de barragens existentes e catalogadas pelas Agência Nacional de Águas”, explicou.
Ao mesmo tempo, de acordo com o coordenador do projeto, o sistema ainda pode ser aprimorado e, assim, ser mais útil para as autoridades e para a sociedade. “Temos uma ferramenta inovadora que pode auxiliar na tomada de decisão e planejamento de políticas públicas relacionadas ao impacto ambiental causado pela atividade de mineração. O software pode, inclusive, utilizar repositórios de imagens disponíveis publicamente para realizar os mapeamentos em poucos intervalos de tempo (a cada semana, por exemplo). No atual estágio, já conseguimos impactos positivos para a sociedade, de forma econômica e social. Mas, com aperfeiçoamentos, que demandam um pouco mais de pesquisa e investimento, é possível aplicar a ferramenta para reduzir a área de busca de barragens antigas e mal cuidadas ou novos garimpos. Assim, iremos otimizar o tempo e o recurso, com resultados quase que imediatos nas fiscalizações e repressões a possíveis crimes”, concluiu o professor.
A matéria acima teve repercussão na CBN, G1 e Rádio Itatiaia: