Internet do Futuro


Experimentando o futuro

UFMG participa de rede de laboratórios que oferece ambiente para projetar a evolução da internet

Ana Rita Araújo/Boletim UFMG

Plataforma composta de laboratórios instalados em instituições de pesquisa brasileiras, o Future Internet Brazilian Environment for Experimentation (Fibre) oferece ambiente para testes, em tempo real, de novos equipamentos, arquiteturas e aplicações para a evolução da internet. Coordenador da ilha Fibre da UFMG, o professor Dorgival Guedes, do Departamento de Ciência da Computação (DCC), explica que a estrutura funciona como uma nova rede, que usa a internet, mas está sobreposta a ela. Desse modo, é possível experimentar novas soluções, sem interferir no funcionamento da rede mundial de computadores.

“As pessoas esperam que internet funcione como elas já conhecem. Para pesquisadores que estudam como será a grande rede no futuro, isso se torna um problema: como desenvolver pesquisas e realizar testes sem afetar essa rotina?”, explica. Disponibilizado pela Rede Nacional de Pesquisas (RNP), o Fibre está aberto a projetos que focalizem arquiteturas alternativas ao desenho da internet atual. Também pode ser usado em aulas práticas de Redes de Computadores. “Qualquer pesquisador da UFMG pode submeter propostas. Enquanto os especialistas das áreas de computação e engenharia vão apresentar ideias sobre como a internet deve funcionar no futuro, outros podem sugerir novas aplicações em seus respectivos campos de atuação”, afirma o coordenador.

O formato de trabalho adotado pelo Fibre – com sobreposição de uma nova rede à que já existe – surge da observação de como a internet começou, pondera Dorgival Guedes. “Há cerca de 40 anos, ela funcionava como ambiente de pesquisa em cima da rede de telefonia. A ideia era criar funcionalidades novas sobre aquele ambiente”, relembra. Embora haja defensores de um modelo que comece do zero, o Fibre foi criado na perspectiva de trabalhar com uma internet paralela, na qual os pesquisadores possam alterar o atual modo de funcionamento, sem correr o risco de atrapalhar as aplicações existentes, explica o professor. “Podemos usar muito do que já existe e, à medida que formos identificando soluções interessantes, começar a desenvolver equipamentos que substituam a internet atual com mais funcionalidades”, prevê.

Extensões e ‘remendos’

O projeto que deu origem ao Fibre – em edital de 2015, com recursos do Ministério de Ciência e Tecnologia – destaca que a atual arquitetura da internet sofreu “muitas extensões e ‘remendos’ para incluir novas funcionalidades ao longo dos anos”. Transmissões de vídeo e operações bancárias on-line, por exemplo, não haviam sido previstas. Assim, “a cada adaptação, o grau de complexidade da arquitetura resultante aumenta, deixando a internet cada vez mais engessada”. Os criadores do Fibre são enfáticos ao afirmar que, “sem a existência de um ambiente para experimentação, será impossível promover a evolução da internet atual”.

Até o momento, a plataforma é formada por 13 ilhas de experimentação em operação no país, e outras devem começar a operar nos próximos meses. Ela está disponível remotamente para qualquer universidade, instituição ou empresa no Brasil ou na América Latina que tenha interesse em contribuir para a evolução da internet. A ilha da UFMG começou a funcionar plenamente neste início de ano e já abriga dois projetos de porte internacional – o Europe-Brazil Collaboration of Big Data Scientific Research Through Cloud-centric Applications (EUBraBigSea) e o Federated Union of Telecommunications Research Facilities for an EU-Brazil Open Laboratory (Futebol), coordenados respectivamente pelos professores Wagner Meira Jr. e José Marcos Nogueira, ambos do DCC. Composta de computadores, switches e roteadores, que funcionam no conceito de máquinas e redes virtuais, a ilha possibilita o compartilhamento de recursos, de modo que diferentes pesquisadores trabalhem simultaneamente, em vários experimentos. Pesquisadores da UFMG interessados em recorrer ao Fibre para investigar aplicações ou tecnologias de internet podem se cadastrar e enviar propostas pelo site do Fibre.

As propostas de estudos sobre aplicações podem abranger os mais variados campos. Como exemplo, Dorgival Guedes cita projetos em elaboração nas áreas de telemedicina e de monitoramento da qualidade da água. “A ideia é criar novas tecnologias que vão facilitar a vida dos usuários no futuro”, enfatiza. Com relação aos dois primeiros usuários da ilha na UFMG, Guedes explica que o projeto EUBraBigSea tem trabalhado com problemas de tráfego e já se programa para abordar outros aspectos da vida urbana, como saúde e segurança pública, já que o intuito é melhorar a interação do usuário com a cidade, por meio da nuvem.

O Futebol, que focaliza a chamada internet das coisas, busca fomentar a pesquisa na integração entre as redes ópticas e sem fio, para o desenvolvimento de novas tecnologias de rede que possibilitem ao usuário interagir com dispositivos. Para o gerente de Comunidades e Aplicações Avançadas da RNP, Leandro Ciuffo, a inauguração da ilha Fibre na UFMG “aumenta a oferta de recursos computacionais disponíveis para experimentação na plataforma e é o primeiro passo para promover a integração com as atividades do projeto Futebol”.


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