Como se sente ?

Uma ferramenta que mapeia preferências dos usuários e permite detectar sentimento geral em relação aos conteúdos veiculados na web é o tema da pesquisa do doutorando Pedro Henrique Calais Guerra. Essa plataforma de sentimentos consiste em conjunto de técnicas capazes de analisar, em tempo real, o sentimento de grupos de usuários sobre vídeos, notícias, links, hashtags e quaisquer outros conteúdos repercutidos nas redes sociais. Isso é possível graças a um programa que distingue os usuários por meio da quantificação das manifestações individuais acerca de contextos de grande repercussão, como campeonatos de futebol e eleições.

A partir dos perfis coletados, é possível traçar uma tabela de preferências de cada internauta e contabilizar as respectivas intensidades das opiniões, atribuindo peso próprio às suas interações. “Explorando a premissa de que o posicionamento dos usuários é consistente, ou seja, não muda drasticamente do dia para a noite, pode-se inferir o sentimento predominante sobre um conteúdo, sem a necessidade de entrevista ou interpretação dos registros. As conclusões baseiam-se na identificação de quem opinou e de quanto pesa essa opinião no conjunto disponível na rede”, explica Pedro Guerra.

O estudo integra a massa de conhecimento sobre a internet brasileira acumulada pelo Observatório da Web, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web (INWeb), sob coordenação de professores da UFMG. O mecanismo rastreia o que se diz nas redes sobre determinado tema, permitindo a espacialização da sua abrangência e até a filtragem dos termos utilizados.

A pesquisa baseada no perfil de cada usuário – peculiaridade do estudo de Pedro Henrique, que chamou a atenção da Google – permite reduzir a margem de contradições. “Grande parte dos termos publicados e das interações como ‘retuidadas’, ‘curtidas’ e ‘compartilhamentos’ tem finalidades diversificadas, incluindo ironias. Por isso, a análise é mais precisa quando se considera o perfil do usuário, e não necessariamente o conteúdo das mensagens”, esclarece o professor Wagner Meira Jr., orientador do estudo.

Endosso, comunicação e paradoxo

Pedro Henrique ressalta que todas as ferramentas de que lançou mão para ditar o funcionamento do programa são respaldadas pela literatura das ciências sociais. “Meu trabalho emana da materialização computacional das teorias sociais e psicológicas, ainda que conte com pequena contribuição intuitiva”, informa o autor.

A contraposição entre “endosso e comunicação”, por exemplo, é parte do complexo processo do qual decorre a análise de sentimentos. “No Facebook, o endosso é representado pelo ‘curtir’. Já o ‘comentar’ diz respeito à comunicação. O exclusivo e recorrente endosso, ou ‘curtida’, de um usuário em relação ao outro, traduz a concordância de opiniões. Se há comentários (comunicação), mas não há ‘curtidas’ (endosso), provavelmente a relação é de discordância. A ausência de interação, por sua vez, denota indiferença quanto ao posicionamento do outro”, esclarece o doutorando.

O “paradoxo dos rivais” complementa a teoria do “endosso e comunicação” na tarefa de elucidar as interações que ocorrem nas redes sociais. Ele é aplicado em contextos multipolares, como as repercussões que envolvem o futebol. “Torcedores do Atlético Mineiro tendem a repercutir, mesmo que em tom de contestação ou deboche, uma notícia positiva sobre o Cruzeiro, seu maior rival, embora preferissem dar maior visibilidade a uma notícia negativa. Por outro lado, os atleticanos serão indiferentes a um conteúdo semelhante a respeito do Grêmio, de Porto Alegre. Isso não significa que eles preferem a ascensão do Cruzeiro à do Grêmio – pelo contrário, estão indiferentes a este e avessos àquele. Tal analogia está entre as inúmeras variáveis que devem ser consideradas para se chegar à análise final”, conclui.

Fonte: Boletim UFMG 1822 (www.ufmg.br/boletim/bol1822/4.shtml)
Reportagem: Matheus Espíndola
Foto: Isabella Lucas/UFMG

 

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