O próximo passo dos robôs que utilizam inteligência artificial é unir tecnologias que estão sendo desenvolvidas separadamente. “Um androide como os da ficção, que tomam decisões sozinhos, ainda está longe de se tornar uma realidade”, afirma o professor do Laboratório de Visão Computacional e Robótica (VerLab), do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, Douglas Guimarães Macharet. Na avaliação do especialista, os robôs humanoides atuais têm pontos fortes distintos. “Nenhum deles é bom em tudo. Esse deve ser o próximo passo”, afirma.
Sophia, a android “popstar’’ da empresa Hanson Robotics, de Hong Kong, chama a atenção pela aparência e pela capacidade de simular mais de 60 expressões humanas e responder a perguntas, mesmo com palavras previamente gravadas. A tecnologia utilizada por Sophia é parecida com a dos chatbots dos atendimentos a clientes. A diferença é que, no caso da androide, ela tenta responder sobre tudo, enquanto os chatbots se especializam nos assuntos específicos das empresas.
Ao analisar Sophia, Macharet avalia que existe uma parcela de marketing na estratégia da Hanson. “Para nós, da academia, não faz muito sentido tentar imitar um humano neste momento. Temos questões anteriores, como o desenvolvimento de máquinas que entendem palavras e consigam caminhar. Tem marketing, sim, mas no futuro essas tentativas podem ser importantes”, acrescenta. Sophia começou a caminhar em janeiro de 2018 e faz poucos movimentos com pernas e braços.
Já a norte-americana Boston Dynamics se especializou em locomoção. Seu robô Atlas, além de andar e correr em pisos irregulares, é capaz de dar um salto mortal para trás. “Isso é impressionante em termos computacionais. Não é fácil para um robô andar, tem a questão do equilíbrio. Os humanos demoram um ano para aprender”, afirma o professor. Por outro lado, Atlas não conversa como Sophia. Outros exemplos, menos desenvolvidos, como os robôs Pepper, da japonesa Sofbank, e Sanbot, da chinesa Qihan – ambos especializados no atendimento ao público – se locomovem por rodinhas, o que, em termos de computação, é mais simples.
Futuro. Entre as pesquisas em desenvolvimento no VerLab está o estudo de enxames de robôs. A ideia é desenvolver sistemas que coordenem vários robôs para executar uma única tarefa. “No futuro, se colocarmos vários nanorrobôs no corpo de uma pessoa, precisaremos de meios para coordená-los nas tarefas, então já começamos a desenvolver agora”, explica Macharet. Mas o professor salienta que nanorrobôs passeando pelo corpo humano ainda está longe de acontecer. “Talvez daqui a 50 anos”, afirma.
Outra reportagem sobre o assunto também publicada no Jornal O TEMPO