UFMG e startup mineira vão criar IA para responder a perguntas sobre o SUS

Sediado no DCC, INCT TILDIAR se uniu à Dadosfera para lançar o primeiro modelo de linguagem natural brasileiro focado em dados tabulares de saúde pública, democratizando o acesso a informações do SUS

Especializada em inteligência artificial e gestão de dados, a startup Dadosfera convidou pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para ajudá-la a abrir os dados disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) para os cidadãos não especialistas.

Hoje, quem tenta consultar o DataSUS enfrenta um labirinto de tabelas e colunas. São milhões de registros públicos de internações, tratamentos e gastos em saúde, mas escritos em linguagem técnica e organizados de forma pouco intuitiva.

Para resolver esse desafio, a startup acaba de firmar uma parceria com os pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Inteligência Artificial Responsável para Linguística Computacional, Tratamento e Disseminação de Informação (INCT TILD-IAR).

E os primeiros resultados já têm prazo para começarem a serem alcançados. Em seis meses serão apresentados protótipos e o desenvolvimento completo deve ocorrer em até 12 meses. Ou seja, o desenvolvimento de uma inteligência artificial capaz de interpretar perguntas feitas em português simples e devolver respostas estruturadas sobre qualquer dado do SUS.

A tecnologia também será o primeiro modelo de linguagem natural brasileiro voltado à análise de dados tabulares. A iniciativa tem apoio da Embrapii e do Sebrae.

A fase inicial será conduzida em infraestrutura compartilhada entre UFMG e Dadosfera, com participação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A equipe soma 11 pesquisadores — entre estudantes, mestres e pós-doutores — trabalhando para construir o modelo que deverá transformar o acesso à informação em saúde pública.

Um chatbot para o SUS

Imagine que se você precisasse saber quantas internações por dengue ocorreram no município de Serra da Saudade, menor município de Minas Gerais e do Brasil em número de habitantes, em 2024, bastasse perguntar. Sem precisar baixar planilhas ou entender fórmulas. Esse é o tipo de interação que a nova IA tornará possível.

De forma prática, a ferramenta vai traduzir perguntas humanas em comandos de análise de dados, navegando por milhões de registros do DataSUS e retornando informações legíveis, mas, principalmente, com segurança e precisão.

Segundo o professor Marcos André Gonçalves, do departamento de Ciência da Computação da UFMG, a proposta é muito mais do que tecnológica: “é social”. A parceria representa um movimento de inovação responsável, que busca equilibrar desenvolvimento técnico e impacto público. “O objetivo é permitir que qualquer cidadão possa consultar os dados do SUS de maneira simples e confiável”, destaca o pesquisador.

Brian Zaki, COO e sócio da Dadosfera, também comenta a importância social do projeto. “Embora alguns dados públicos de saúde sejam fáceis de encontrar, grande parte só pode ser acessada por especialistas. Quando essa barreira é removida, o entendimento deixa de ficar limitado e aumenta o número de pessoas capazes de criar soluções e tomar melhores decisões sobre a própria saúde”, afirma.

O que é o TILD-IAR?

O INCT TILD-IAR é uma rede nacional de pesquisa em Inteligência Artificial Responsável, financiada pelo CNPq, CAPES e FAPEMIG. O instituto reúne cientistas da UFMG, UFSJ, UFAM e de outras universidades brasileiras e estrangeiras, dedicados a criar tecnologias de IA que compreendam o contexto humano e linguístico.

Entre seus projetos está o estudo publicado na revista ACM Computing Surveys, que apresentou a plataforma iRev, um marco científico para avaliar a precisão de sistemas de recomendação baseados em comentários da internet. Essa mesma linha de pesquisa agora se desdobra no desafio de ensinar a IA a ler e compreender dados de saúde pública, de forma ética, transparente e socialmente útil.

Startup que conversa com dados

A Dadosfera nasceu em Minas Gerais com a missão de facilitar o uso de dados complexos para resolver problemas reais. A empresa atua na construção de soluções de análise de dados e inteligência artificial voltadas para empresas e governos.

Agora, com o novo projeto em parceria com o INCT TILD-IAR, a startup dá um passo além. Seu papel é traduzir a pesquisa científica em aplicações práticas, testando o modelo com dados reais do SUS e preparando o terreno para que, no futuro, qualquer pessoa possa conversar com os dados públicos de saúde como se estivesse dialogando com um assistente digital.

Um passo em direção à cidadania digital

Mais que uma inovação tecnológica, o projeto propõe uma mudança de cultura no acesso à informação pública. Quando o DataSUS se torna acessível a qualquer cidadão, o conhecimento sobre políticas de saúde deixa de ser privilégio de especialistas e passa a fortalecer o controle social e a transparência.

Como resumiu o professor Marcos Gonçalves, essa é uma parceria que aproxima universidade e indústria com propósito público. A IA do SUS nasce para democratizar dados e dar às pessoas o poder de entender melhor sua própria saúde.

Redação: Marcus Vinicius dos Santos – INCT TILD-IAR

Crédito da imagem: Freepik.com e Fernando Frazão – Agência Brasil

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