Com graduação em Ciência da Computação (UFRJ 2007, magna cum laude), mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação (PESC/COPPE/UFRJ 2011, Bolsista Nota Dez da FAPERJ) e doutorado em Ciência da Computação (University of Massachusetts Amherst 2016), Fabrício Murai é professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC/UFMG) desde 2017. Fabrício também fez um summer internship no LinkedIn na Califórnia, em 2015, e foi professor visitante na Politecnico di Torino durante dois meses, em 2018-2019, na Itália.
A maioria das pessoas não sabe, mas o nome completo do Murai é Fabrício Murai Ferreira, mas, em suas publicações e no dia a dia, ele omite o último nome. “Imagine a quantidade de `Fabricios Ferreiras” que existem no Brasil! Se eu assinasse assim teriam dois efeitos colaterais: o Google Scholar iria começar a atribuir vários artigos de outras pessoas ao meu perfil, mas ninguém saberia de fato quem sou eu! (risos)”, disse.
Renato Assunção, também professor do DCC/UFMG, conta que ele e os colegas só chamam o Fabrício pelo seu sobrenome Murai. “Murai é um dos professores mais completos do DCC, bom em teoria, em implementação e prática. Ele mostra essa competência desde os tempos de graduação na UFRJ, quando formou-se como aluno com notas máximas. Murai é super dedicado aos projetos de extensão que temos com empresas e suas aulas são sempre muito completas e rigorosas, sem esquecer os aspectos intuitivos. Tenho tido o privilégio de trabalhar com o Murai em projetos de pesquisa e extensão. Fico admirado com o conhecimento amplo e sólido que ele possui e como consegue colocá-lo em prática para resolver problemas. Tenho certeza de que iremos ouvir falar muito dele”, falou orgulhoso.
O professor Jefersson Alex dos Santos, colega no DCC/UFMG, também considera Fabrício um excelente profissional, além de uma grande pessoa. “Acho que o Murai mistura o que tem de melhor do japonês e do brasileiro (risos). Ele consegue ser extremamente competente nas tarefas que realiza, com bastante rigor técnico/científico e, ao mesmo tempo, é um colega bastante acessível e compreensível. O que observei nesses anos trabalhando com o Fabrício é que ele busca e consegue entregar excelência tanto no ensino quanto na pesquisa. Mais recentemente, demonstrou enorme capacidade de gerenciar equipes e projetos também”, contou.
Apesar de ter um currículo todo voltado para a Ciência da Computação, inicialmente Murai não pensava em fazer a graduação na área, já que cogitava fazer Matemática. “No meu tempo, muita gente escolhia computação por gostar de jogos de computador. No entanto, escolhi o curso quase que por um acidente de percurso. Não conhecia muitas opções de carreira, e cogitava fazer Matemática. Ainda morando no Rio, conversei com um amigo cujo irmão, Yuri Gitahy, tinha feito computação “lá na UFMG, em BH”, e aprendi que a computação era uma opção interessante por usar matemática para aplicações próximas ao nosso cotidiano”, contou.
Enquanto estudante, Fabrício passou por alguns desafios. No início, era passar três horas por dia no trajeto de ida e vinda do bairro Méier, no Rio de Janeiro, até a UFRJ, que fica na Ilha do Fundão. Muitas vezes teve de estudar em pé, com o ônibus balançando. Anos depois, segundo Murai, o desafio e incentivo passou a ser transformar o conhecimento adquirido em pesquisa relevante para a sociedade. Já como inspiração e modelo de pesquisador que almeja ser, o professor conta que deu a sorte de ter o Daniel Figueiredo e o Edmundo de Souza e Silva como orientadores de mestrado e o Don Towsley durante o doutorado. “Muitas coisas me marcaram durante a graduação. Eu vi o programa de cotas ser implementado na UFRJ, e o aumento progressivo da diversidade no corpo discente. Hoje, como professor, entendo o papel fundamental que as ações afirmativas têm no ensino superior. Descobri durante a Iniciação Científica que é fundamental saber inglês para fazer pesquisa (e tive que correr atrás do prejuízo, pois meu inglês realmente era muito fraco). Vi de perto as dificuldades financeiras que alguns alunos tinham para frequentar a faculdade. E ainda há quem diga que todos têm as mesmas oportunidades… Ao mesmo tempo, ter tido excelentes professores me despertou a paixão por aprender e ensinar. Descobri esse gosto ainda na graduação, ajudando colegas de turma e ao ser monitor de disciplinas em que os alunos ficavam frequentemente desesperados. Há algo mágico na expressão facial dos alunos quando entendem algo que antes parecia ser incrivelmente complexo”, disse empolgado.
Fabrício se sente inspirado ao fazer com que os alunos desenvolvam uma apreciação pela importância dos tópicos em computação que leciona e, de acordo com ele, formá-los com uma base sólida para aprender, aplicar e desenvolver novas técnicas e tecnologias é muito inspirador. “Sou exigente, porém acessível e preocupado em garantir o aprendizado dos alunos. Na graduação leciono Análise Numérica e Álgebra Linear Computacional, já na pós-graduação, ensino Deep Learning (costumava oferecer Model Thinking também), em conjunto com outros professores. Durante as aulas, tento desenvolver nos alunos um gosto pelo formalismo e pela modelagem matemática. Além disso, costumo trazer exemplos de aplicações da teoria e exemplos que vêm da pesquisa”, relatou.
Até meados do doutorado, Murai tinha quase certeza que queria seguir a carreira acadêmica, mas não podia ter certeza absoluta até que tivesse pelo menos uma experiência na indústria. Assim, em 2015, aplicou para alguns summer internships relacionados a sua pesquisa (amostragem em redes sociais) e recebeu ofertas do LinkedIn e do Facebook. “Passei três meses no LinkedIn, em Sunnyvale CA, desenvolvendo técnicas escaláveis para testes A/B em grafos, que foram usadas para lançar a funcionalidade de chat na Nova Zelândia. Apesar de todos os mimos das big techs da Bay Area, ficou claro para mim que o modo de pensar e fazer as coisas, mesmo nas empresas que fazem pesquisa, é fundamentalmente diferente da academia, que é mais alinhada comigo. Além disso, em uma empresa eu não teria a oportunidade de orientar alunos em problemas que nós escolhemos trabalhar, que é uma das experiências mais gratificantes da pesquisa, na minha opinião. O que mais me inspira em minhas pesquisas é resolver problemas desafiadores que tenham alto impacto social e/ou tecnológico, de maneira bem fundamentada do ponto de vista teórico”, contou.
Para Fabrício, um pesquisador não pode deixar de ter uma curiosidade implacável por entender o mundo. As pesquisas desenvolvidas por ele têm como objetivo desenvolver modelos estatísticos e de aprendizado de máquina para estudar fenômenos do mundo real de grande impacto, especialmente aqueles que usam dados passíveis de serem representados como grafos, como usuários em redes sociais. No geral, o impacto no dia a dia das pessoas é ajudar a entender melhor a sociedade: a disseminação das fake news, o discurso de ódio, por exemplo. Outro objetivo é aprimorar o cumprimento da lei, como novas técnicas de detecção de lavagem de dinheiro. Já como desafio para realizar as pesquisas nos últimos anos, o professor vê a dificuldade de se conseguir recursos para financiar a ciência. “Esse desafio é compartilhado por todos nós pesquisadores brasileiros. Torço para que esse cenário mude em um futuro próximo”, desabafou.
Em setembro deste ano, Murai entrará de licença no DCC/UFMG para assumir como professor no Worcester Polytechnic Institute (WPI), em Massachusetts. O WPI foi um dos pioneiros na criação de um programa de doutorado em Ciência de Dados, nos Estados Unidos. Para ele, é uma grande oportunidade para egressos do BCC, BSI e BMC que tenham o objetivo de fazer pós-graduação nessa área de pesquisa, fora do Brasil.
Murai é casado e pai de um menino de 8 anos, o Nicolas. “Nicolas nasceu no dia da minha qualificação de doutorado, que foi enviada pelo Wifi da maternidade, após uma noite quase sem dormir! Nicolas gosta de correr, cantar e programar. Infelizmente puxou as habilidades futebolísticas do pai”, contou sorrindo.
No bate-papo com a Comunicação do DCC/UFMG, Murai falou também sobre os alunos, sua relação com o Departamento e o que gosta de fazer nas horas vagas, leia abaixo:
Como vê os alunos do DCC?
O perfil da maioria dos nossos alunos é o sonho de todo professor. Alunos inteligentes, dedicados e extremamente engajados, nas aulas e na pesquisa.
O que não pode faltar em um aluno do DCC? Seja aquele que deseja ingressar na pesquisa ou no mercado de trabalho.
Profissionalismo, perseverança e vontade de entender (de verdade!) como resolver de maneira adequada desafios computacionais.
O que representa o DCC em sua vida profissional e, até mesmo, no campo pessoal?
Minha vida no DCC começou em 2017, quando entrei na UFMG como professor adjunto. Desde então, tive a chance de me expor a diversas experiências e situações que me tornaram um professor e pesquisador mais completo. Aprendi a adaptar minhas aulas à diversidade do corpo discente. Tive a oportunidade de trabalhar com colegas e alunos extraordinários, estabelecendo colaborações e amizades que levarei para o resto da minha jornada.
Como você define o DCC?
O DCC/UFMG é um Departamento que ocupa uma posição de destaque no Brasil não por mero acaso, mas devido a uma estratégia de crescimento e melhoria definida a longo prazo. O Departamento tem tido êxito em atrair excelentes alunos e professores ao longo dos anos. Além disso, tem tido bastante sucesso em atrair parcerias no mercado e nas esferas do governo, levando inovação e devolvendo, de certa forma, o investimento feito pela sociedade.
O que mais gosta de fazer em suas horas vagas?
O que são horas vagas? (risos) Gosto de viajar, comer boa comida e correr ao ar livre. Já encontrei vários alunos correndo na Lagoa da Pampulha. Também gosto de cozinhar. Há alguns anos atrás eu me arriscava a fazer alguns pratos, mas hoje em dia só faço panquecas e waffles.