Nas grandes cidades, é muito comum que os motoristas passem horas no tráfego. Só em Belo Horizonte, nada menos que 1,52 milhão de carros circulam nas ruas todos os dias – a cidade viu sua frota aumentar em 105% nos últimos dez anos. Para contornar esse problema, os motoristas recorrem a emissoras de rádio e à internet na busca de informações sobre a situação do trânsito nas áreas da cidade por onde vão passar.
Com o objetivo de disponibilizar informações sobre o tráfego, o estudante de doutorado do Departamento de Ciência da Computação da UFMG Thiago Oliveira propôs a criação de uma rede social específica para a troca de informações entre motoristas.
“A ideia partiu da necessidade dos motoristas obterem informações mais confiáveis sobre o trânsito, uma vez que há vários problemas e pontos de lentidão nas grandes cidades. Propomos uma rede que permite a troca de informações durante o trajeto dos veículos, levando em conta a variação da velocidade dos mesmos. No cenário atual, precisamos de informações precisas e confiáveis para facilitar os deslocamentos cotidianos, diminuindo o tempo e o estresse”, aponta o pesquisador.
A rede social está descrita no artigo Certificados sociais para segurança em redes veiculares tolerantes a interrupções, apresentado no 31º Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos, que aconteceu este ano, em Brasília. A ideia da pesquisa surgiu do desafio de permitir uma comunicação que facilite o deslocamento das pessoas, tanto em veículos próprios como em coletivos.
“Estudamos as tecnologias capazes de possibilitar a comunicação entre motoristas e o compartilhamento de informações de trânsito, mesmo se a internet não estiver disponível. Por isso, usamos a tecnologia de rede DTN (delay and disruption), que é tolerante a interrupções e que permite que as mensagens sejam guardadas para serem enviadas no momento em que o motorista conseguir se conectar a outro usuário da rede”, explica Oliveira.
Como as mensagens são trocadas diretamente entre os motoristas, cria-se um canal de comunicação independente da internet. Os usuários divulgam suas informações e os demais as repassam de forma a difundir o conhecimento sobre a situação do trânsito. O pesquisador acrescenta que a origem da informação transmitida pela rede também é levada em conta.
“Foram estabelecidas regras para definir o potencial de cada informação recebida pelo veículo, de acordo com o autor da mensagem. Informações de pessoas que não são amigos do motorista na rede social também são válidas, porém consideradas de menor potencial, uma vez que o motorista não tem contato direto com o seu autor”, explica Thiago.
Informação segura
Para Thiago Oliveira, a restrição das informações recebidas via rede social torna a informação sobre o tráfego mais confiável. Segundo ele, como as mensagens são trocadas diretamente entre os usuários da rede, cria-se um canal de comunicação independente da internet. Isso aumenta o grau de confiança, uma vez que é possível questionar o autor sobre o fato ocorrido.
“Quando recebemos uma informação de um amigo sobre um caminho que pretendemos utilizar, tal fato é relevante e considerado na decisão de passar ou não por aquela região. Por outro lado, se não sabemos quem avisou que algo aconteceu numa determinada avenida, não conseguimos definir o impacto dessa situação e se a informação é de fato confiável, pois há pessoas mal-intencionadas e empresas que podem estar interessadas em desviar o fluxo de veículos para serem beneficiadas.” Ele acrescenta que essa informação mais confiável incentiva os motoristas a participarem da rede.
O estudo está em fase de testes e, segundo Thiago Oliveira, a rede social proposta em sua pesquisa poderá ser colocada em prática nos próximos anos. Atualmente, muitos motoristas de cidades grandes e médias já consultam mapas na internet ou confiam no GPS para definir qual rota vão utilizar, porém sem visualizar em tempo real problemas que ocorrem nas vias que fazem parte da rota. O pesquisador cita o Waze, aplicativo disponível para celulares e tablets e que permite que os motoristas visualizem opiniões de usuários desconhecidos sobre fluxos de veículos, postos de combustíveis e acidentes.
“A principal diferença entre nossa rede social e o Waze é que propomos a inclusão de aspectos de segurança na comunicação entre motoristas. Isso possibilita que sejam identificados amigos ou colegas de trabalho que trafegaram recentemente pela região na qual o motorista está interessado e, assim, ele fica mais seguro para fazer sua escolha”, conclui.
Artigo: Certificados sociais para segurança em redes veiculares tolerantes a interrupções
Autores: Thiago R. Oliveira, Sérgio de Oliveira, Daniel F. Macedo, José Marcos S. Nogueira
Fonte: UFMG online (Luana Macieira)
Publicado em: 14 de outubro de 2013, às 5h31