Nesta segunda-feira, 13, o Jornal “DIA”, do Rio de Janeiro, publicou a matéria “Cibersegurança: a luta pela igualdade de gênero no setor”, destacando o projeto METIS, coordenado pela professora do Departamento de Ciência da Computação (DCC) da UFMG, Michele Nogueira. Na matéria, alunas dos cursos do departamento deram seus depoimentos e mostraram a importância de trabalharem na área, enfatizando que “Não estamos protegendo apenas sistemas, mas as pessoas por trás deles”. Leia abaixo a matéria na íntegra:
Cibersegurança: a luta pela igualdade de gênero no setor
Apenas 25% dos postos de trabalho em segurança cibernética são ocupados por mulheres
Apesar da crescente demanda por profissionais da área de cibersegurança, a participação feminina no setor ainda é alarmantemente baixa. De acordo com um estudo da empresa de recrutamento PageGroup, apenas 25% dos postos de trabalho em segurança cibernética são ocupados por mulheres. Para reverter esse cenário e incentivar a inclusão feminina, foi lançado o Projeto METIS, coordenado pela cientista da computação Michele Nogueira. O projeto tem como foco promover a conscientização, capacitação e apoio a meninas e mulheres para que ingressam e se destaquem na área de segurança digital.
“Métis é a Deusa grega da proteção. As mulheres têm preocupação intrínseca com proteção; por isso, trazem perspectivas diferenciadas e necessárias para construção de soluções de cibersegurança”, explica Michele Nogueira, Ph.D. em Ciência da Computação pela Universidade de Sorbonne. Ela enfatiza a importância de inserir mais mulheres em um setor que, além de altamente demandado, oferece grandes oportunidades de crescimento profissional e remuneração diferenciada. O Projeto METIS busca, assim, diminuir a desigualdade de gênero na área, proporcionando desde a educação básica até o mercado de trabalho, capacitando mulheres de diferentes faixas etárias.
Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Projeto visa incentivar meninas desde o ensino fundamental até a universidade a seguirem carreira em cibersegurança. O projeto promove oficinas, palestras, programas de mentoria e capacitação técnica, além de criar uma rede de apoio entre profissionais do setor.
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Michele Nogueira, cientista da computação e coordenadora do projeto METIS – Divulgação
“O projeto visa promover a inclusão e o protagonismo feminino na cibersegurança. Desde a base educacional até a inserção no mercado de trabalho, estamos trabalhando para mudar a realidade que nós, mulheres cientistas, enfrentamos nas reuniões de trabalho, onde somos sempre minoria”, relata Michele. Ela destaca que, além de capacitar tecnicamente, o Projeto METIS também fomenta um ambiente mais inclusivo no setor, proporcionando suporte contínuo e buscando influenciar a criação de políticas públicas que incentivem ainda mais a participação feminina.
“Segurança de dados é proteger Pessoas”, diz a estudante Fernanda Pereira
Aos 24 anos, Fernanda Pereira está desbravando um caminho ainda desafiador para muitas mulheres: a área de segurança de dados. Aluna do curso de Sistemas de Informação, Fernanda se encontrou na cibersegurança durante os últimos anos da graduação, ao perceber o impacto crescente dos ataques virtuais. “Sempre gostei de construir sistemas de qualidade, mas com o aumento dos ciberataques, percebi que a segurança dessas soluções é fundamental. Não estamos protegendo apenas sistemas, mas as pessoas por trás deles.”
A transição para a área de cibersegurança foi marcada por desafios. Desde cedo, Fernanda notou que ser mulher em um campo majoritariamente masculino exige esforço dobrado para provar competência. “Questionaram minha capacidade, e isso me desanimou em muitos momentos. Mas busquei referências que me inspirassem a seguir, como a professora Michele Nogueira, que mostrou que é possível ocupar um espaço de destaque e contribuir com a área.”
Das poucas mulheres que ingressaram na turma de Fernanda, apenas cinco chegaram à reta final. Essa realidade reflete a dificuldade de inclusão feminina no setor de tecnologia, especialmente em áreas como segurança de dados, ainda dominadas por homens. Mesmo assim, Fernanda acredita que sua trajetória é um ato de resistência.
Hoje, como aluna do projeto METIS, que incentiva a inserção de mulheres no mercado de cibersegurança, Fernanda se sente ainda mais motivada a inspirar outras jovens a seguirem por este caminho. “A segurança de dados não é só sobre tecnologia. É sobre cuidar daquilo que é mais importante: as pessoas e suas histórias.”
A jovem apaixonada por cibersegurança que busca fazer a diferença
Aos 19 anos, Amanda Silveira Barbosa está no segundo período do curso de Ciência da Computação na UFMG e já demonstra um grande interesse por cibersegurança. “Mesmo quando eu ainda não tinha certeza sobre qual curso eu faria, já tinha curiosidade sobre essa área”, conta a estudante. Desde 2022, Amanda começou a se aprofundar no assunto, mas foi em 2024 que teve a oportunidade de realmente mergulhar no campo que tanto a instiga.
O que mais a motiva é a curiosidade despertada pelo tema. “É empolgante entender como as coisas funcionam, como lidar com situações de segurança e pensar no futuro da área, sobre como vamos enfrentar ataques, desde os mais simples até os em escala global”, explica Amanda. O desejo de aprender e fazer a diferença é o que a guia. “Quero ajudar a área a crescer e, quem sabe, me tornar uma referência em segurança de dados”, completa.
A realidade das mulheres na ciência da computação
A turma de Amanda reflete a baixa representatividade feminina em cursos de exatas. Quando ingressou, em 2024, havia cerca de oito mulheres em uma sala com 40 alunos. Hoje, restam apenas seis. “É um pouco difícil contar porque a turma só fica realmente junta no primeiro período, mas é perceptível como somos minoria”, relata.
Para Amanda, a desigualdade de gênero na área vai além dos números. Ela compartilha a realidade enfrentada por muitas mulheres: “Acho que toda mulher já enfrentou algum tipo de discriminação, mesmo que de forma velada. Muitas vezes, são detalhes que nem percebemos no momento, porque isso já está tão enraizado no sistema que aprendemos a ignorar para não nos sentirmos mal”.