O DCC participa de projeto internacional que investiga uso de plataformas em nuvem para armazenamento de dados

Reportagem de Luana Macieira para Boletim UFMG nº 1929

Uma árvore que cai em Belo Horizonte em uma tarde chuvosa tem o poder de afetar várias esferas administrativas da cidade: o gestor do trânsito precisa tomar medidas para desafogar o tráfego, a companhia de limpeza é chamada para desobstruir a via e a concessionária de energia se vê obrigada a intervir para garantir o restabelecimento do serviço interrompido em decorrência do incidente. Todos esses transtornos poderiam ser tratados de forma mais efetiva se os dados que subsidiam as decisões dos gestores fossem integrados, armazenados e manipulados na “nuvem”.

Esse exemplo real foi relatado ao professor Wagner Meira Júnior, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, em visita recente ao Centro de ­Operações da Prefeitura de Belo Horizonte (COP-BH). O caso ilustra um dos potenciais benefícios do projeto EUBra-BigSea, iniciado em janeiro deste ano, que envolve 12 universidades ao redor do mundo interessadas no desenvolvimento de métodos, algoritmos e tecnologias para as plataformas de armazenamento de dados em nuvem. Meira é o coordenador brasileiro da iniciativa, que será desenvolvida nos próximos dois anos, com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação por meio de edital publicado pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP).

Quatro pilares sustentam o projeto: qualidade do serviço, grande volume de dados, técnicas de inteligência analítica para lidar com esses dados e privacidade e segurança das informações. A primeira frente pretende gerar processos para que os provedores de acesso em nuvem consigam garantir aos usuários a qualidade do serviço prestado.

“Quando contrata um serviço de armazenamento de dados em nuvem, por exemplo, a pessoa quer a garantia de que vai conseguir abrir seus arquivos rapidamente, em qualquer lugar. Vamos construir mecanismos que possibilitem aos provedores dar essa garantia de acesso rápido e eficiente”, explica Meira.

O segundo pilar focalizará grandes volumes de dados corporativos e não corporativos armazenados nas nuvens. Segundo o professor, essa demanda nem sempre é previsível e, por isso, requer estratégias específicas. “Há o risco de o servidor ser inundado por dados não previstos. Nesse tipo de situação, como ele poderá garantir a qualidade do serviço? Pretendemos construir mecanismos para receber, tratar, processar, armazenar e integrar essa massa de dados”, diz.

O terceiro eixo diz respeito ao estudo de técnicas de inteligência analítica de tratamento de dados, e o quarto, à privacidade e segurança das informações. “Não basta armazenar e manipular os dados, são necessárias técnicas algorítmicas de segmentação da informação. Além disso, ao lidarmos com dados privados e sensíveis, precisamos garantir que as informações não estarão disponíveis para qualquer um. Mesmo estando na nuvem, um dado não pode ser acessado por qualquer pessoa”, argumenta o professor Meira.

Cidade inteligente
As quatro vertentes do estudo serão trabalhadas em um cenário-modelo de cidade inteligente – aquela que, na perspectiva da computação, faz uso de tecnologias de informação e comunicação para planejamento e melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. “A nossa prova de conceito é a cidade inteligente. Como seria uma cidade inteligente em nuvem, com garantias de privacidade, segurança, qualidade de serviço e lidando com grandes volumes de dados?”, pergunta o pesquisador. “Em um lugar com esse perfil, contaríamos com mecanismos que antecipariam os problemas, com todos os dados sendo armazenados e manipulados em nuvem.”

As informações e dados usados no projeto EUBra-BigSea vão trafegar na Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que conecta as instituições federais de ensino brasileiras à internet. A previsão é que, ao fim do projeto, o grupo tenha desenvolvido protótipos, provas de conceitos e avaliações de funcionamento de sistemas de rede em nuvem.

O projeto EUBra-BigSea lida com um conceito da computação muito explorado atualmente. “A computação em nuvem é cada vez mais presente na vida das pessoas. É aquela da qual você usufrui, mas não vê. Ela está em algum lugar, mas não é representada de forma física”, diz Wagner Meira.

O professor explica que as principais vantagens da computação em nuvem – em comparação com a tradicional – são a robustez e a elasticidade. A primeira característica alude ao fato de que os sistemas em nuvem são mais estáveis, pois se encontram mais bem distribuídos espacialmente.

“Quando você usa um e-mail, por exemplo, não sabe onde ele está e, mesmo assim, é possível acessá-lo de qualquer lugar”, diz Meira. A elasticidade é a capacidade de um sistema se expandir para armazenar maior volume de dados e processar tarefas mais intensivas do ponto de vista computacional.

Wagner Meira acrescenta que a computação em nuvem favorece o conceito de compartilhamento de tempo – muito usado na computação –, pois possibilita o trabalho com um conjunto de máquinas não localizadas no mesmo lugar. “Uma máquina que usa computação em nuvem executa, ao mesmo tempo, vários processos de usuários diferentes. Não é o infinito, mas é o mais próximo dele que conseguimos chegar”, conclui o pesquisador.

 

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